Mário Silva Lima: É a classe operaria!
O revolucionário internacionalista Antônio Gramsci afirmou que “a hegemonia burguesa nasce no chão da fábrica”. Penso que para os comunistas este é o ponto central da atuação de qualquer revolucionário que se pretenda consequente. O problema que se coloca então é: como construir nossa hegemonia a partir do chão da fábrica?
Por Mario Silva Lima*
Publicado 14/10/2013 17:56 | Editado 13/12/2019 03:30
Assim como Sócrates, o filósofo, não o craque de futebol, aqui vou mais interrogar que responder, já que não tenho as respostas. Quando muito, darei palpites. A primeira interrogação é por que o Partido Comunista do Brasil, sendo o Partido da classe operária, conta com tão poucos operários em suas direções?
Aqui quero dar alguns palpites. Primeiramente, mesmo reconhecendo toda dificuldade que é a atuação neste campo, penso que faltou ao Partido priorizar uma atuação mais consistente entre os trabalhadores fabris. Só para ilustrar; lembro-me de quando a Corrente Sindical Classista entrou para a Central Única dos Trabalhadores e foi participar do Congresso da CUT, que na delegação dos metalúrgicos de São Paulo mais da metade estava desempregada e, portanto, não podia pagar a taxa de participação. A solução sugerida foi para que procurássemos auxílio entre nossos parlamentares, ou entre nossos sindicalistas detentores de mandato. Procuramos a dois pelo menos. Ambos negaram! Porém, sintomático mesmo foi à justificativa do nosso parlamentar: “atenção do meu mandato só para a juventude”. Penso que essa justificativa é suficiente para compreendermos qual era a prioridade do Partido então.
Outro ponto de reflexão é a política de formação e promoção de quadros, a meu ver, injusta para os operários. Penso ser do conhecimento de todos de que a grande maioria dos operários não tem acesso às universidades e que, por conta disto, seu nível educacional é inferior ao de alguns de outros segmentos da sociedade. Isto se reflete no Partido, pois para formar um quadro operário se gasta muito mais tempo e recursos do que formar um quadro de nível universitário, sem contar que muitas vezes o quadro já chega ao Partido pronto, já que é oriundo de outra organização. Isto se reflete na política de promoção dos quadros porque muitas vezes o operário milita anos e anos e permanece como militante de base ad eternum, ao passo que o quadro que chega pronto, com um discurso articulado, é logo guindado a postos de direção. Penso ser necessária a revisão de tal política para que se invista mais na formação e, consequentemente, na promoção de mais quadros operários.
É na prevalência dessas duas situações que encontro a explicação para o baixíssimo número de operários em nossas fileiras. Pelo menos aqui em São Paulo. Poucos operários na base: poucos operários nas direções. Penso que não há segredo nenhum aqui. Disto resulta uma segunda interrogação. Por que não se deu consequência à afirmação, corrente no Partido, de que o problema da construção do Partido entre os operários não era destes, mas de todo o Partido?
Aqui não tenho como palpitar, pois, realmente, até hoje não consegui entender. Mas consegui entender que ao não dar consequência a tal afirmação, o partido a transformou num grande “chavão” e que isso foi mais nocivo ao Partido do que se tivéssemos cumprido a resolução partidária.
Entretanto, não entender não significa abdicar da compreensão. E, assim sendo, vamos tentar encontrar alguma pista. Parece-me que o camarada Elias Jabbour nos indica uma pista nesta mesma Tribuna quando trata em um dos seus artigos do problema de que o Partido tem medo ou esqueceu-se dos projetos de longo prazo. Esta parece ser a chave para que o Partido se encontre finalmente com aqueles que são a razão de nossa existência. Portanto, projetos de longo prazo para nos inserirmos com força no movimento operário deve ser a palavra de ordem de dirigentes, em todos os níveis, e de todo militante comunista. Isto não quer dizer que os projetos de curto e médio prazo devam ser abandonados.
Desta conclusão nasce outra interrogação. Como fazer para que nossa palavra de ordem não se transforme mais uma vez em mero “chavão”? E aqui, mais uma vez, quero palpitar. E convido a todos que também palpitem. Em meu modo de pensar, nisto, como em qualquer coisa, “vale o escrito”. E o escrito tem que valer para todos. Por exemplo, se resolvemos, já há algum tempo, que construir o Partido na classe operária é dever de todos, isto tem que se tornar dever de todos não importando aí se o camarada é dirigente de alta, média ou baixa patente, se é sindicalista muito prestigiado em sua categoria, parlamentar bom de voto, executivo em qualquer nível, ou aquelas ‘vedetes’ referidas pelo camarada Jeosafá Fernandez nesta Tribuna. Não há nada que possa justificar que se determine ser a juventude mais importante que a classe operária. Todos estão submetidos ao escrito. E o escrito aqui tem nome e se chama centralismo democrático.
Isto disto quero propor mais uma interrogação. O § 51 de nosso caderno de teses pontua que “para a nova situação política, as forças sociais organizadas têm que buscar um novo papel e que para que se concretize este novo papel é preciso novas formas de organização”.
Como o novo é muito salientado aí, concluo que estamos propondo uma nova relação Partido-movimentos sociais. A iniciativa é bem vinda, pois assim quem sabe resolveremos o velho problema da nossa relação com tais movimentos. Que se demarque nitidamente a ação do militante partidário e do militante no movimento. A interrogação aqui é como fazê-lo?
Como o que estou escrevendo se encontra no terreno dos palpites, arriscarei de novo. Mas, pela importância da interrogação, me socorrerei com Lênin. Dele que depositava toda confiança em seu povo, que não menosprezava as iniciativas do povo. É, portanto, com este exemplo de revolucionário que proponho prestarmos mais atenção nas ações que alguns desses movimentos vêm adotando. Penso ser inadmissível ignorarmos que os operários da construção civil promoveram greves importantes nas obras do PAC no norte do país, algumas com caráter insurrecionais, como as que aconteceram no canteiro de obras da Hidroelétrica do Rio Madeira. A mais dura repressão comeu solta por lá, e nenhuma palavra do nosso Partido se fez ouvir! Será que não tomamos uma posição por que estamos na base de apoio ao governo? Ou será por que essas greves ocorreram fora e contra o modelo sindical institucional vigente? Ou serão as duas coisas?
Seja qual for resposta, não há como negar que estes companheiros inovaram em suas formas de luta. Então fica aqui uma última interrogação. Por que o novo reclamado no § 51 de nosso caderno de teses foi desprezado quando ocorreu o fato concreto?
É por esta e outras que, parodiando alguém, termino como comecei: é a classe operária!
*Mario Silva Lima é Membro da Célula Comunista de Cultura Paulistana.