Saul Leblon: Ninho de tucano, ovos de serpente
Um site de propriedade do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) está sendo investigado por inquérito policial em São Paulo.
Por Saul Leblon*
Publicado 21/10/2013 19:47

Um site de propriedade do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), que se autodefine como um espaço onde "10 mil brasileiros estão discutindo a nação", está sendo investigado por inquérito policial em SP (78º distrito).
Como informa o portal Brasil 247, a ação policial suspeita que o site tucano Observador Político é uma das usinas mais ativas da onda difamatória de boatos contra Fábio Luís Lula da Silva , o "Lulinha".
Emissões originárias do iFHC, sugerem que o filho do ex-presidente Lula seria uma espécie de metabolização biológica da natureza degenerada do PT.
“O mais recente caso de mega enriquecimento súbito”, dizia o site, até ser objeto do inquérito.
No espaço onde "10 mil brasileiros estão discutindo a nação" atribuía-se ao filho de Lula a propriedade de uma latifundiária fazenda em Valparaíso, SP, no valor de R$ 47 milhões, um jatinho não menos faiscante, ademais da coruscante sociedade no maior negócio frigorífico do país e um dos maiores do mundo, o Friboi, contemplado com robustos financiamentos do BNDES.
O inquérito policial foi aberto para identificar a trama que abastece a rede de mentiras, ademais de colher as motivações da orquestração originária do iFHC.
É preciso aguardar as investigações desse episódio que seria apenas desprezível, não integrasse uma mecânica recorrente que fomenta o ódio e o linchamento nos bastidores, emerge em excretações de preconceito contra o PT na mídia "isenta" e, apoiado nela, monta o discurso de campanhas do conservadorismo – “para acabar com essa raça”, como diriam os novos econeoliberais socialistas do pedaço, os banqueiros Bornhausen.
O Observador Político do iFHC integra esse abrangente jogral responsável, entre outros, pelo martelete da pré-condenação de figuras históricas do PT no julgamento da AP 470.
O tom e a pauta transitam na fronteira da versão digital de revistas semanais de empenho condenatório proporcional e apego equivalente aos fatos.
A coerência recomenda não ir além até que as investigações sejam concluídas. Mas a cautela não desautoriza o interesse jornalístico acerca da composição desse badalado ninho tucano, onde aparentemente também se choca ovo de serpente.
Em última instância, a equipe dirigente do iFHC é a responsável pelo site que neste sábado (19) trazia como um de seus "temas de discussão" a pergunta: "Mais Médicos: jogada eleitoral ou benefício para a população".
Xico Graziano é o segundo nome em importância na equipe do iFHC, em cujo expediente figura como o "Assessor da Presidência", isto é, de Fernando Henrique Cardoso.
Daniel Graziano, seu filho mais novo, é um dos coordenadores do instituto, sob cuja guarda estão as áreas chave da gestão financeira, administrativa e de recursos humanos.
Xico tem outro filho mais velho. O arquiteto André Graziano ocupou a direção de parques e jardins na prefeitura de São Paulo, na gestão do amigo do peito da família, José Serra.
Como se vê, o pai não brinca em serviço.
Agrônomo de formação, Francisco Graziano Neto, é um quadro tucano suficientemente experiente para não se permitir ignorar iniciativas que aconteçam a sua volta.
Xico ocupou vários cargos públicos na órbita do PSDB.
Entre outros, foi Secretário Estadual de Agricultura de Covas (1996-98);Presidente do Incra (1995) no governo FHC; Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995); Secretário Estadual do Meio Ambiente de Serra (2007-2010).
Em 2010 coordenou o programa de governo do candidato da derrota conservadora, José Serra.
A folha respeitável nem sempre cresceu à margem de ruídos e atritos com a função.
Primeiro presidente tucano do Incra, órgão responsável pela reforma da estrutura fundiária brasileira, Xico, que tem interesses na área rural, tornou-se um dos principais ideólogos da luta contra a reforma agrária no país.
As colunas que assina semanalmente no jornal O Estado de S. Paulo’são conhecidas pela agressividade e a provocação derrisória contra o MST.
Nisso também lembra a cepa de certa revistas semanais.
O jogo da espionagem e da ação dissimulada – outro atributo dessas semanais – tampouco lhes são estranhos.
Em 1995, Xico Graziano foi demitido da chefia do Gabinete Pessoal do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Flagrado, inaugurava o primeiro "grampo" da era tucana, bisbilhotando as disputas palacianas em torno das verbas milionárias para aquisição de equipamentos destinados à vigilância da Amazônia (Sivam).
Há quatro anos, o blog Namaria News coletou sugestivo retrospecto de baldeações entre o interesse público e privado envolvendo o sobrenome deste que hoje está à frente do instituto, apontado como um dos ninhos da emissão difamatória contra a família do ex-presidente Lula.
Acompanhe o levantamento do Namaria News postado em 10/12/2009:
(…) “Toma posse hoje, com direito à presença de Serjão [Sérgio Motta], o novo delegado regional do Ministério das Comunicações em São Paulo: Eduardo Graziano. Vem a ser irmão de Xico [sic] Graziano, chefe de gabinete de FHC na Presidência”
“Neste link vê-se que o administrador de empresas Eduardo Graziano é sócio-fundador da UniSol (Universidade Solidária), juntamente com a falecida Dona Ruth Cardoso; o Sr. Daniel Tostes Graziano (NR filho de Xico, hoje no iFHC) é o coordenador administrativo-financeiro”
“A dupla fraterna colaborou unida no programa de governo de José Serra para a Prefeitura em 2006, da qual o Sr. José Serra jurou de pés juntos que não sairia para concorrer a nada, antes do final do mandato”
(…) “O Sr. Eduardo Graziano também é Presidente e fundador do Instituto Mensageiros, com sede na Barra Funda (SP). Sua filial é na Avenida Pedro Álvares Cabral 201, coincidentemente o prédio público da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Palácio Nove de Julho), pois que lá eles funcionam com o Projeto Escola Arte Culinária: a abertura dos espaços do Café São Paulo e da Lanchonete, na ALESP – cujo Processo RGE 4845/05, foi renovado recentemente. Maiores detalhes da ONG podem ser vistos em Contas: Relatório 2008 (e demais), sendo que no tópico 12 – Parcerias e Subvenções Públicas, estão os seus patrocinadores”
“Já na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM, em março deste ano, ele (Eduardo Graziano, irmão de Xico, tio de Daniel e André, amigos de Serra ) aparece como coordenador geral da UGP BID E BIRD na audiência pública para compra de trens da Linha Coral”
“Ou seja, o Sr. Graziano sabe um bocado de licitações”
“Em outra passagem pelo DO, em 4/ agosto/2009, o mesmo consta como Coordenador Setorial da CPTM, sendo designado para compor a Unidade de coordenação do programa de investimentos (UCPITM)”
“Eduardo Graziano (irmão de Xico, tio de Daniel e André) é o proprietário da Objetiva Eventos (…)”
“A empresa de eventos, propriamente dita, é sediada no município paulista de Santa Isabel, onde os impostos são mais baixos, porém seu galpão (escritório, contato etc) é igualmente no bairro da Barra Funda – Capital”
“Competentíssima, mas com apenas 5 funcionários registrados, planejou, preparou e realizou campanhas eleitorais, com mais de mil pessoas nas ruas da Grande São Paulo, distribuindo material e, ainda, distribuindo jornais e panfletos de casa em casa “ (…)
“A Objetiva Eventos tem participado em várias campanhas políticas e eleitorais, organizando os Congressos e Convenções Partidárias para escolha dos candidatos a prefeito, governador e presidentes da república. Também, desde 2005, tem participado ativamente do planejamento e organização dos eventos eleitorais do tipo comício ou passeatas pelo comércio de bairros, com a participação pessoal do candidato (vide Serviços).”
“Entre as imagens comprobatórias dos trabalhos estão Geraldo Alckmin e José Serra.”
“O menu Portifólio [sic] (3) é imperdível, assim como o Agenda (4), ambos com riquíssimos conteúdos, onde se vê a sua mais influente clientela: Sabesp, CPTM, CODEAGRO, FDE, Telefonica, SEE, Grupo Tejofran, CDHU e outros. Sem esquecer aquela Ata de Registro de Preços 02/2007 (Pregão Presencial 13/2007), do CEPAM, citada no início.”
Fonte: Carta Maior