Um golpe em minha vida

Dois poemas evocam o golpe contra a democracia, de 1964, e a opção de ser comunista

Por Andocides Bezerra

Abaixo a ditadura!

Um golpe em minha vida

Pensem nas amarguras
Nas mães chorosas
Nas mãos temerosas
Pensem nos gritos
Mudos, sufocados
Nas torturas sem fim
Nas mulheres sem filhos
Pensem na dor como
O ferro em brasa
Na carne outrora
Marcada como gado
Que no matadouro
Não morre nem pára
Um sofrimento vil
Pensem neste golpe
Como punhalada
Que não mata, nem sara
 
Enquanto houver sofrimento
Enquanto houver sofrimento e dor,
Minha opção é cantar a vida e o amor
Enquato houver a voz rouca
E a mão tapando a boca,
Enquanto houver desprezo,
Muita maldade, bondade pouca
E houver o alto preço e moeda rara
Para quem a vida já lhe é muito cara,
Minha opção é a fala,
O grito mesmo que triste
A luta por paz e o dedo em riste
Enquanto houver facínora e celerado
O meu fascínio é o punho cerrado
Enquanto for tudo na santa paz
Na base do mais ou menos
Porém, muito mais menos do que mais
Lutar pelo o que nos é negado
É a opção que me satisfaz
Enfim, e digo isto por mim
Enquanto houver miséria e opressão,
Ser comunista é a minha opção.