Publicado 13/11/2014 11:59 | Editado 04/03/2020 17:06

A solenidade foi marcada por uma exposição do autor, o professor da Universidade Federal de Goiás, Romualdo Pessoa, e integrou a programação do XXII Encontro Nacional de Geografia Agrária, promovido pelo departamento de Geografia e o programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN.
A obra, uma publicação da Editora Anita Garibaldi em co-edição com a Fundação Maurício Grabois, é uma continuação da pesquisa iniciada em 1992, que se tornou dissertação de mestrado em 1995 e foi publicado em 1997, "A Guerrilha do Araguaia – A esquerda em armas".
No lançamento, ao ponderar que ainda hoje há perseguição aos moradores da região, Romualdo falou os motivos que o fizeram despertar para necessidade de continuar estudando o que aconteceu com os camponeses depois da Guerrilha.

Para Romualdo Pessoa, foi dado um poder muito forte ao major Curió que exerceu um controle grande na região, ultrapassando os limites do local onde aconteceram os conflitos da Guerrilha do Araguaia. O historiador lembrou que Curió já foi prefeito, deputado federal, interventor em Serra Pelada e até deu nome a uma cidade: Curionópolis.
Com base em documentos do Serviço Nacional de Segurança (SNI), do Centro de Informações do Exército (CIE) e do Centro de Inteligência da Aeronáutica (Cisa) —, Romualdo Pessoa constatou que boa parte dos conflitos que existiram ali teve a terra como elemento principal da disputa, mas que por trás disso havia uma rede densa de informações, o que permitiu estabelecer uma relação com a maneira como a área estava sendo monitorada.
O livro analisa a região onde aconteceu a guerrilha no período posterior ao movimento guerrilheiro, entre os anos de 1975 (final da guerrilha) e o ano 2000. Durante esse período, a luta pela terra, o advento de Serra Pelada e a organização dos camponeses, tornaram o Sul do Pará a região mais violenta do país. Por todo este tempo, o monitoramento dos órgãos de segurança estiveram presente na região e foram cúmplices e coniventes, e até atuantes diretamente, nos assassinatos de centenas de camponeses e de lideranças políticas, comunistas e religiosas.
Romualdo observou ainda como toda a ideologia e práticas militares do regime ditatorial são mantidas na região, garantindo a impunidade para assassinatos de lideranças camponesas, sindicais, clericais que buscam defender os direitos da população mais pobre.
Presente ao lançamento, a viúva do guerrilheiro do Araguaia, Fátima Sá, considera o livro uma importante ferramenta para a democracia brasileira ao desvendar a maneira como a ideologia de Segurança Nacional influenciou e continua presente na forma como os conflitos agrários são debatidos. Ela ressalta a importância em abordar esta questão na visão de diferentes protagonistas e documentos, formando a história, por muito tempo oculta, a respeito do tema.



