Publicado 11/12/2014 10:16 | Editado 04/03/2020 17:16
Vivemos um momento em que as relações raciais estão em pleno debate no seio de nossa sociedade. O recismo, o preconceito, a zombaria fazem parte de um conjunto de mazelas que afrontam os direitos humanos e a democracia de um país cujo sua nação é formada com diferentes etnias fazendo com que haja um sentimento de unidade nacional.
O racismo surge realmente nos séculos XVI e XVII, sobretudo neste último. A história do racismo no mundo ocidental é amplamente associada à escravidão como a forma primitiva do colonialismo. Os britânicos não se tornaram traficantes de escravos e escravizadores por serem racistas. Tornaram-se racistas porque usavam escravos para obter grande lucro nas Américas e criaram um conjunto de atitudes em relação aos negros para justificar o que faziam. A verdadeira força motriz detrás do sistema escravocrata era a economia. E é nesse contexto que as oligarquias que ainda comandam a política, a economia, a comunicação e a formação de deturpadas e preconceituosas opiniões se oportunam de seus mecanismos para impor uma política de divisão de classe e, sobretudo, o fomento do racismo no Brasil.
Nos negras e negras que há séculos lutamos por uma democracia pautada na diversidade étnica e dos direitos civis no que tange a igualdade racial, nos sentimos ultrajados com a insistente tentativa de uma das maiores emissoras de TV do Brasil estereotipar e constantemente criar clichês fragilizando socialmente a imagem da população negra em escalas internacionais desconstruindo décadas de luta contra o racismo e o preconceito que propositalmente inviabiliza a ascensão social de um povo que representa 52% da população brasileira. A Rede Globo de Televisão ultrapassa todos os limites de desrespeito, preconceito, racismo, zombaria, mazelas e sobre tudo violação dos direitos humanos, pois ignora toda historia e o processo de contribuição na formação política, social, cultural, estrutural e econômica do país que, por sua vez, fortalece essa mesma elite oligárquica reafirmando a dialética burguesa de que nós os pretos somos uma raça inferior nos dando somente as migalhas de uma estrutura gerida cem por cento por caucasianos que fazem a manutenção desse mesmo poder oprimindo e desenformando a grande massa sobre a importância de vivermos em uma sociedade mais justa, participativa e igualitária. Não podemos nos calar frente a esse ultraje a essa falta de respeito com a nossa etnia. A Rede Globo de Televisão insiste na política do a e até mesmo usam estratégias e manobras racistas usadas por Silvio Romero quando usam a política do branqueamento da sociedade brasileira. Há décadas essa emissora elitista vem afirmando o lugar do negro na sociedade como se isso fosse algo determinado por nós negras e negros! Papéis subalternos de eterna servidão e estereotipados nos colocando como malandros, prostitutas, serviçais, bandidos, corruptos tudo que representa as mazelas da sociedade está associado aos negros e a hora do basta já está no seu limite!
Dramaturgias como Antonias, Suburbia e agora Sexo e as Nagas não representam a população negra e em especial não representa a mulher negra que há séculos vive na base da pirâmide social por conta de uma imposição da elite branca que ainda usa a imagem da mulher negra para reafirmar o preconceito e o racismo velado que assombra como um fantasma higienista os sonhos de uma vida mais igualitária e socialmente mais participativa. A mulher negra não deve ser usada como um objeto sexual como se as suas aspirações de ascensão social estivesse ligadas única e exclusivamente à sua sexualidade bem como há este mesmo pensamento quanto a virilidade sexual do homem negro comparando seu órgão sexual coma uma “vantagem” frente ao homem branco na tentativa de nos dar alguma “vantagem” frente as diferenças étnicas. É inadmissível aceitarmos ou mesmo nos colocarmos alheios frente a essa barbárie racial, essa farra racista e preconceituosa, a essa afirmação de um sentimento nacional que se revela nos campos de futebol como foi o caso do goleiro do Santos Futebol Clube o Aranha, como essa nova série que a Rede Globo de Televisão está propondo como se fosse uma versão de “Sexy and City” e que na verdade não passa de um estereótipo do imaginário racista sobre a mulher negra o seu lugar determinado por eles na sociedade brasileira.
Somos veementemente contra a veiculação da serie “sexo e as negas” bem como toda e qualquer montagem dramatúrgica que fragilize ainda mais a imagem do negro no país e no mundo. Repudiamos intenções carregadas de afirmações negativas e preconceituosas dessa emissora que nos desrespeita nos coloca num nicho subalterno de sobdesenvolvimento intelectual reafirmando o pensamento da classe dominante de estar sempre à frente do poder.
Queremos respeito, queremos igualdade, queremos já a queda do racismo e do preconceito na sociedade brasileira. Somos e temos o direito de ser tratados como seres humanos com sentidos, anseios e aspirações que nos leve desde já aos lugares que há quatrocentos anos nos é negado e este atraso só contribui com o processo de fomento da desigualdade e do preconceito com afirmações negativas sobre o importante papel do negro no Brasil como “sexo e as negas” promovido pela Rede Globo de televisão!
Tadeu Kaçula é sociólogo e militante do PCdoB da Capital de São Paulo