Publicado 25/11/2015 10:44 | Editado 04/03/2020 16:25
Toda escolha é estética? Escolher a roupa, a comida, a imagem, a música e até mesmo os círculos de amizade denota uma preferência historicamente construída. Na vida fazemos escolhas de forma e conteúdo constantemente. Forma e conteúdo são elementos que encontramos nas nossas relações estéticas e que carregam uma carga ideológica que preenche o simbólico.
Seria impossível pensar a vida dissociada da estética na sua acepção epistemológica que diz respeito à percepção dos sentidos. As estéticas, enquanto elementos ligados às sensações e percepções dentro dos seus contextos sócio, históricos e individuais, existem e ultrapassam os conceitos de belo e de arte.
Como pensar uma produção estética fora dos padrões normativos baseados em técnicas, conceito de belo e hegemonia cultural da classe dominante ou da guetização do circuito oficial das artes? Se compreendemos que a estética é algo que se caracteriza pela não unicidade, apesar da predominância de alinhamento aos padrões estéticos da sociedade de acumulação do capital, podemos discorrer sobre a estética também como uma opção política em que os elementos da forma e conteúdo se pautem por elementos que conjuguem novas formas de refletir o simbólico no contexto de compromissos emancipatórios.
O Coletivo Camaradas, no seu pensar e fazer estético e artístico, tem procurado desenvolver processos criativos que proporcionem fruições caracterizadas por relações de identidade, pertencimento, co-autoria, replicação, “despatenteamento”, inclusão, expressividade e empoderamento social, ocasionado uma produção estética e artística com e para as camadas populares.
Notadamente não existe uma preocupação primária com o domínio da técnica ou com a formação de artistas, mas com o compromisso de refletir sobre uma arte coletiva, colaborativa e humanizadora que instigue a criatividade e um posicionamento crítico diante da realidade e por conseguinte contribua com a democratização do saber e do fazer proporcionando a ampliação da visão social de mundo.
Mesmo não existindo uma preocupação com o domínio da técnica e considerando-a importante dentro do processo da produção simbólica, existe uma preocupação e uma escolha estética que aponta o humanismo como constituição de uma linha de pensamento que coloca a existência humana como principal obra de arte, a vida.
*Alexandre Lucas é pedagogo, artista/educador e coordenador do Coletivo Camaradas.
Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.