Mulheres ocupam ruas em defesa da democracia e contra o golpe

A manifestação em alusão ao Dia internacional da Mulher em Fortaleza neste ano foi emblemática. Além da pauta relativa às mulheres, mais de duas mil pessoas foram às ruas da capital cearense para defender a democracia e ratificar a luta contra o golpe. Organizada pela Frente Brasil Popular, o ato foi o primeiro movimento organizado após a condução coercitiva de Lula na última sexta-feira (04) e teve a adesão de diversas entidades, movimentos, partidos políticos e organizações.

Mulheres ocupam ruas em defesa da democracia e contra o golpe

Com o tema “Nenhum direito a menos! Contra o Conservadorismo na política, na economia e na vida das mulheres!”, o ato reuniu homens e mulheres de todas as idades na Praça Coração de Jesus, em Fortaleza, e saiu em caminhada pelas principais ruas do centro. Com faixas, cartazes, batuque e palavras de ordem, o sentimento do protagonismo das mulheres efervescia. “Sou jararaca, você ouviu, para acabar com o golpismo no Brasil!” foi uma das palavras de ordem entoada pelos manifestantes, relembrando a comparação que Lula fez em seu discurso após prestar depoimento à Polícia Federal.

Nagyla Drumond, secretaria estadual de Mulheres do PCdoB, considera simbólica a manifestação deste 8 de março pois, sem abrir mão do protagonismo das mulheres na cena nacional, consegue trazer as pautas que estão em voga e sem perder de vista algo estratégico. “Neste momento lutamos sobretudo para garantir e aprofundar a democracia. Sem ela não há direitos das mulheres e nem país desenvolvido”, ratifica. 

Sobre a pauta da manifestação abranger a defesa de Lula, Nagyla considera que o ação contra o ex-presidente coloca em risco o Estado Democrático de Direito. “Esse posicionamento une as comunistas e os comunistas à profunda defesa de Lula, da democracia e do governo popular e democrático da presidenta Dilma. Não há outro caminho. Se tivermos que ir às ruas todos os dias, iremos. O ataque que eles sofrem é a personificação do ataque à democracia brasileira. E estas questões todas precisam estar no 8 de março, que marca o inicio de uma jornada de lutas com outras manifestações nos dias 18 e 31”. 

Marta Brandão, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Ceará (Sindsaúde), também destacou a iniciativa de reunir a pauta das mulheres à defesa da democracia. “O momento que a gente vive no país não requer só a união das mulheres, mas de todo o povo brasileiro que deseja que o país continue avançando cada vez mais. A tentativa de golpe tenta impor o retrocesso e as mulheres mais uma vez ratificam seu papel importante. Enquanto a ameaça raivosa da direita insiste em tentar impor o retrocesso, a unidade popular se consolida para esse enfrentamento, que deverá ser feito principalmente nas ruas”, defende.

Sarah Cavalcante, presidente da UJS-Ceará, também considera este 8 de março uma data com característica diferente. A jovem, mulher, estudante e militante acredita que as mulheres têm que estar na linha de frente, se posicionar na defesa da democracia. “Somos nós que mais sofremos na ditadura, corpos molestados, os filhos retirados de casa”. A líder estudantil enumera motivos para defender Lula e Dilma. “Os governos de esquerda colocaram as mulheres em outro patamar, como no programa Minha Casa Minha Vida, onde ela é a dona do papel da casa. Temos o dever de barrar essa onda conservadora que não aceita que o povo pobre ascenda, que a mulher negra da periferia se liberte. Estaremos de prontidão para enfrentar qualquer tentativa de golpe”.

Historicamente envolvida com as principais causas populares e na defesa do Brasil, a UNE sempre esteve presente nas manifestações. E não foi diferente em Fortaleza. Germana Amaral, vice-presidente estadual da entidade, considera que as mulheres tendem a ser mais prejudicadas em períodos de crise e de economia tensionada. “Mulheres e jovens feministas precisam tomar as ruas e dizer que esta empreitada conservadora não vai conseguir interferir ainda mais na vida dessas mulheres. Precisamos debater nas ruas que os direitos não são consolidados se não for dentro da democracia. Só ela fortalece os movimentos sociais, os movimentos feministas e é isto que estamos fazendo hoje nas ruas: dizendo não ao golpe. Precisamos manter nossa democracia e defendê-la com unhas e dentes”.
 
Truculência policial

Já no final da manifestação, já na Praça da Justiça, um grupo resolveu queimar um boneco representando o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com o ato já praticamente esvaziado um grupo de cerca de 15 policiais militares apareceu sem identificação no fardamento, jogando gás de pimenta no rosto de manifestantes, duas militantes que ainda estavam na praça. Algumas pessoas que já saiam, voltaram para ajudar e também sentiram o cheiro forte do gás no ar. Segundo militantes, os PMs portavam câmeras e filmaram todos os presentes. Depois de uns 15 minutos tensão, os ânimos foram acalmados e os remanescentes saíram juntos da praça.



Matéria atualizada às 19h19 do dia 08/03