Publicado 13/05/2016 10:09 | Editado 04/03/2020 16:24

A presidente afastada Dilma Rousseff nunca teve carisma. A fama de durona, de sargentona, de gerentona criou em torno dela uma espécie de blindagem que anula qualquer rasgo feminino de sua figura. Já no exercício do poder, tornaram-se comuns as notícias sobre o gênio da presidente. Costumava passar broncas públicas nos subordinados e dizem que fazia marmanjos irem às lágrimas após reuniões. Havia também a ideia bastante divulgada de que ela fala uma língua cifrada que não faz nenhum sentido.
Votar na Dilma era uma solução para quem acreditava – e ainda acredita – em soluções políticas que podem cooperar para um mínimo de justiça social num país tão desigual. O governo dela manifestou-se muito ruim. As denúncias que envolvem o PT foram estocadas violentas e a direita em movimento deu o empurrão que faltava para fazê-la tombar.
Nos últimos meses, porém, comecei a prestar atenção na pessoa da Dilma, não mais na presidente. Fiquei espantada com a força que essa mulher tem. Talvez nenhum personagem público no Brasil foi tão massacrado quanto ela. Xingada publicamente no Brasil e fora do País, pressionada violentamente pela grande mídia nacional, achincalhada nas redes sociais, rejeitada pelos milhões que foram às ruas. Aguentou firme. Falava da responsabilidade constitucional e do zelo pela história democrática do País. Quando os ex-aliados foram-se embora e aconteceu aquela votação da Câmara, em abril, pensei que ela fosse mudar de endereço. Não o fez.
A dignidade com que essa mulher está lidando com a tormenta que a alcança é notável.
Não existe consenso quanto ao crime que ela cometeu. Não acredito neste crime. Criminoso é o julgamento a que a presidente afastada foi submetida à vista de todos nós. Talvez a força, a serenidade altiva que essa mulher demonstra seja o que tem posto tantos artistas, intelectuais e pessoas comuns ao seu lado.
A Dilma nunca será carismática. Mas a delicadeza democrática, o compromisso com sua história, a perseverança e a capacidade de luta mesmo quanto tudo parece – e está realmente – perdido é a maior lição que Dilma Rousseff me deu.
*Regina Ribeiro é Jornalista do O Povo.
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