Marcos Sampaio: Para os machos

Por *Marcos Sampaio

machismo

Próximo de me despedir da alfabetização, minha professora reuniu os alunos para organizar nossa festa de Doutor do ABC. O primeiro passo seria escolher um par para o baile e o procedimento adotado seria o seguinte: ela perguntaria aos meninos com que menina eles gostariam de dançar e ela diria se aceitava. Não abri mão do direito de escolher aquela que foi meu primeiro sex symbol, principalmente depois de perceber que, por opção ou constrangimento, todas as meninas aceitavam de pronto o garoto que as estava escolhendo.

Tenho orgulho das fotos ao lado da menina mais linda da minha sala, mas olho com certo horror esse processo onde cabia a ela só o papel de dizer sim ou não. Tamanha aberração só é aceita, uma vez que, historicamente, o machismo é ensinado para as crianças desde o berço, incentivado durante a juventude e formalizado na vida adulta. E as consequências são drásticas.

Lembrei-me dessa história quando soube que um homem abordou uma mulher dentro de uma boate de Fortaleza, forçando-a a lhe dar um beijo. Casos como esse se tornaram tão corriqueiros que há quem pense que se trata de algo normal. Desrespeitos que partem da ideia da mulher como um objeto à disposição do homem acontecem em todas as casas de shows, transportes coletivos, calçadas, bares e espaços públicos do mundo. Há até quem defenda atitudes como essa apostando numa certa molecagem sem muitas implicações. Não é o caso. Sem o devido consentimento, qualquer abordagem, venha de quem vier, é criminosa.

Infelizmente, agressões e abusos como esses já se tornaram tão corriqueiros nos nossos dias que, em muitos casos, ganham nome de frescura e são deixados pra lá até por quem sofre com eles. A desinformação é tamanha que mulheres são agredidas sem saber que são agredidas. Por isso, toda iniciativa que promova informação, denúncia e punição de casos como esses deve ser incentivada. Só assim, quem sabe, um dia os machos percebam que toda mulher tem direito de escolher quem elas querem ou não beijar.

*Marcos Sampaio é Jornalista do O POVO

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