Arruda Bastos: Jucá e o mensalão do Impeachment

Por *Arruda Bastos

Declarações de Jucá repercutem na Câmara: “prova do golpe”

O vazamento da gravação entre Romero Jucá, Senador e Ministro do Planejamento do Presidente em exercício, e Sérgio Machado, antigo presidente da Transpetro, caiu como uma bomba nas hostes do governo e, principalmente, do PMDB. O receio tornou-se ainda maior porque outros dois importantes próceres também foram gravados em conversas com o citado Sérgio Machado: Renan Calheiros e José Sarney. As gravações, que confirmam as articulações para uma farsa e um golpe no Impeachment da presidenta Dilma, foram o batom na cueca que faltava.

A gravação demonstra claramente a compra de votos para aprovação da admissibilidade e continuidade do processo de Impeachment contra a presidente Dilma, tanto na Câmara quanto no Senado. Agora ficou fácil para todos: é um novo argumento para justificar que todo o processo foi ilegítimo. Até para a Presidenta Dilma, que foi intimada pela Ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF), ficou tranquilo justificar suas afirmações de golpe. Agora é só mandar os áudios da conversa de Romero Jucá, para evidenciar, até para os que defendiam seu afastamento, que tudo não passou de um golpe.

O acordo era o seguinte: vamos votar “Sim” para o Impeachment e o governo Temer garante um “Não” no prosseguimento da Operação Lava Jato. Como no Congresso existe um grande número de parlamentares citados em delações premiadas da Lava Jato, em listas como da Odebrecht, Furnas e até já respondendo a diversos outros procedimentos judiciais, ficou muito fácil conquistar e até mudar os votos.

O Mensalão do Impeachment da Presidenta Dilma ficou explicitado por Jucá e Sérgio, afinal, na Câmara e no Senado, os parlamentares eram os eleitores para a votação do Impeachment e não se compra votos só com dinheiro, como na época da aprovação da reeleição do Fernando Henrique Cardoso, ou trocando por dentadura, milheiro de tijolo ou saco de cimento, como ainda acontece em várias regiões do meu Ceará e em outras regiões do Brasil. Compra-se, também, trocando por benesses, vantagens, como garantia de segurança, proteção nas investigações e outras propostas indecentes, como na época do gangster Al Capone.

A questão a se perguntar é “por que só agora a gravação vazou?”, haja vista que ela foi captada em março e já era do conhecimento da justiça. No caso da conversa entre Dilma e Lula, quando da sua indicação para a Casa Civil, a gravação telefônica vazou para a Globo de forma instantânea e até sem qualquer respaldo judicial. Em muitas outras oportunidades, os vazamentos aconteceram de forma seletiva.

O pagamento do Mensalão aos congressistas vem sendo realizada aos poucos, a conta-gotas. A primeira medida foi beneficiar partidos e políticos investigados e citados na Lava Jato e em outros processos, como é o caso do próprio Romero Jucá e do corrupto presidente da Câmara afastado, Eduardo Cunha. Ainda causa estranha a lerdeza, não se sabe porque, da Lava Jato, que, após os acontecimentos envolvendo o Impeachment da Presidenta Dilma, passou 41 dias sem nenhuma nova fase ou diligência.

O afastamento de Jucá e a patética nota oficial do governo demonstram todo o temor de Temer, medo característico de governos frágeis e ilegítimos, que se vergam à chantagem de toda ordem e até com certa facilidade à pressão popular, como se viu no caso da recriação do Ministério da Cultura. O governo está sitiado e apodrece a uma velocidade exponencial a cada dia.

A Rede Globo é ainda o maior sustentáculo do golpe. Tem quem afirme que o Jornal Nacional do dia do vazamento da gravação foi articulado com o presidente em exercício. Por mais que a Globo resista e não divulgue as manifestações que se ampliam em todo Brasil, fica impossível continuar com tanta desfaçatez, querendo passar a informação de que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa” como nesse do Mensalão do Impeachment com a compra de votos em troca de segurança na Lava Jato. Tudo é a mesma coisa: uma fraude, um crime.

Para “parar essa porra” e “estancar a sangria” (palavras de Jucá), seria preciso retirar a presidenta Dilma do poder, colocando no cargo o usurpador Temer – e, o mais grave é que, segundo Jucá, esse “acordão” envolveria até integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF).

O golpe foi desmascarado e agora de forma irremediável. Não tem mais jeito. Cabe, neste momento, ampliar a nossa movimentação nas ruas e junto aos parlamentares sérios, principalmente senadores, na luta para reverter os votos no julgamento no Senado.


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

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