Publicado 30/12/2017 10:36

Disse sua excelência o governador dos paulistas, Geraldo Alckmin, que vai acabar com a EBC-Empresa Brasileira de Comunicação, caso os brasileiros cometam o desatino de colocá-lo na presidência da República, no próximo outubro.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Alckmin comentou a informação de que a direção da EBC cogita reduzir a folha de pagamento e mudar a grade de programação, para equilibrar as contas em 2018.
A empresa terá R$ 20 milhões a menos no orçamento, que já era insuficiente para operar seus dois canais de TV, oito emissoras de rádio e uma agência de notícias.
Mas a EBC acredita que, com menos despesa trabalhista e uma programação que atraia mais audiência para o seu carro-chefe – a TV Brasil -, conseguirá atravessar 2018 sem sobressaltos.
Será seu último ano de problemas e de vida, se Alckmin for o piloto da caneta presidencial, a partir de 2019. O candidato tucano pretende extinguir a empresa, com base em um argumento bastante surrado.
"É a TV do Lula", diz Alckmin, repetindo o bordão de dez anos atrás. "Gasta um dinheirão e não dá audiência. Temos que modernizar".
A modernização, claro, seria extinguir a televisão pública, para que os brasileiros possam desfrutar mais as delícias da mídia privada, este suposto exemplo de correção editorial e sucesso comercial, cuja decadência até as formigas já conseguem perceber.
A fake news, no caso, reside em dois aspectos. Primeiro, Alckmin não faria o que está dizendo. Segundo, não é possível acabar com o que já acabou.
Se a mídia pública fosse tão desimportante, Michel Temer não teria posto a EBC sob seu comando, menos de uma semana depois de usurpar a presidência, em maio de 2016. Já teria acabado com ela.
De outro lado, o golpismo já extinguiu a TV Brasil como "TV do Lula", no sentido daquela emissora plural, equilibrada e preocupada em dar voz e imagem a setores sociais sub-representados na mídia, que existiu durante o período petista.
Uma emissora complementar, voltada a transmitir conteúdos e valores que as TVs comerciais não oferecem, como é papel da televisão pública, em toda parte onde ela não foi estuprada pelo mercado.
Agora, sob o governo do MDB de Temer e do PSDB de Alckmin, o critério da TV Brasil é exatamente o do mercado.
O critério da audiência bruta, do volume de audiência, que se pode trocar por publicidade comercial, devidamente disfarçada de "apoio cultural".
Se Alckmin quer acabar com a televisão pública federal, por julgá-la inútil, por que nunca propôs acabar com a televisão pública paulista, a TV Cultura, que está sob jugo tucano há quase 20 anos e opera pelo menos há sete sob a mesma lógica da atual TV Brasil?
"Modernizar" a TV pública, em São Paulo, significou reduzir drasticamente o orçamento, quase eliminar a produção própria e encher a grade com audiovisual estrangeiro.
E, claro, tucanar o seu jornalismo em altíssimo grau, como bem demonstra a pauta atual do "Roda Viva", onde o pensamento único neoliberal e antidemocrático raramente é incomodado com alguma dissidência.
A EBC e a TV Brasil têm muitos problemas e o inchaço de mão de obra é certamente um deles. A programação é outro.
Mas esses problemas não serão efetivamente resolvidos por Alckmin, nem por qualquer presidente a serviço do mercado, exceto pelo único caminho que eles praticam e que não caberia aqui: a privatização.
Mídia pública exige visão democrática, respeito à diversidade e espírito público. Nada que os mercadistas possam garantir.