As eleições e a divulgação das pesquisas por um jornal paulista

por Lejeune Mirhan*

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Vejamos como se comportou a Folha, que é o único jornal deste país que tem o seu próprio instituto de pesquisa. Eles colocaram suas equipes em campo na segunda e terça-feira e, na noite da própria terça, seu site já estampava as manchetes com os resultados. Isso é possível pelo simples fato que os pesquisadores de campo coletam os resultados das entrevistas estratificadas de acordo com a realidade social brasileira em máquinas que se conectam à central de tabulação dos dados via satélite ou mesmo celular e o resultado é praticamente instantâneo.

Não contesto os resultados. Acho que a Folha e outros institutos têm acertado na maioria das vezes, ficando na margem de erro. O maior problema tem sido a forma como as manchetes são estampadas nas capas dos jornais impressos e como são noticiadas pelos jornais televisivos do dia da sua divulgação.

Qual foi a manchete que a Folha preferiu estampar na sua capa na quarta-feira? "Sem Lula, Bolsonaro lidera" (sic)… Aqui há vários problemas e todos de ordem política e não metodológica. Primeiro e mais importante, a Folha retira Lula da corrida presidencial. O segundo, no questionário e nas tabelas de nomes que os entrevistados recebem para opinar, eles incluem Huck mesmo este tendo emitido uma carta dizendo que não será candidato (sabemos que poderá mesmo vir a ser, se isso atender aos desejos da burguesia decadente), e de Joaquim Barbosa, que ainda não se decidiu, nem se sabe se terá legenda e por qual partido concorrerá. Ou seja, a Folha trabalha com dois dos seus mais recônditos desejos, quais sejam, Lula fora e Huck dentro. Mas, isto não é a pior coisa.

Não sou jornalista, nem editor de jornal, mas como defendemos sempre um jornalismo equilibrado (jamais neutro), e isso nunca ocorreu aqui no que vem sendo chamado de imprensa familiar. Se ocorresse, quais deveriam ser as duas possíveis manchetes que se esperaria de um jornal equilibrado?

"Lula lidera, mesmo depois de sua condenação" ou "Sem Lula, nulos e brancos atingem marca jamais registrada na história". A primeira manchete, se eu fosse editor de um jornal de esquerda, mas ainda equilibrado eu colocaria: Lula dispara na liderança, mesmo após a sua injusta condenação!

Aqui, também pela primeira vez todos os candidatos dos sonhos da direita oligárquica e fascista aparecem na consulta feita pelo jornal. Quem são eles? Alckmin (que eles chamam de "centro"), Doria, Huck e Joaquim Barbosa. A soma desses candidatos não atinge 20%, quase 18% atrás de Lula e pouco acima do fascista desvairado que atende pelo nome de Bolsonaro.

Algumas conclusões preliminares, depois tantas leituras e anotações:
1. Quanto mais a (in) justiça e a mídia batem em Lula, mais ele cresce nas pesquisas (claro que isso não é eterno e pode ser revertido sim);
2. Nenhum candidato da direita dos sonhos da burguesia tem mais de 6 ou 7%; nenhum deles decola nas pesquisas eleitorais (apesar de todo o apoio e espaço midiático que ganham diariamente seja por ação direta ou por omissão às suas canalhices);
3. Ao que tudo indica – ainda que também possa ser revertido –, a oligarquia direitista vai aumentar os ataques à Lula e à esquerda em geral (há os que teimam em seguir com ilusões de classe sobre isso);
4. Apesar de toda a pancadaria na esquerda, em Lula, o PT volta a ser o partido mais preferido do povo, voltando ao seu patamar histórico acima de 20% e os direitistas PSDB e MDB amargam não mais que 4%.

Lejeune Mirhan é Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista da Revista Sociologia da Editora Escala, da Fundação Maurício Grabois e do Vermelho. Foi professor de Sociologia e Ciência Política da UNIMEPentre 1986 e 2006. Presidiu o Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo de 2007 a 2010.

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