O enfrentamento ao racismo no país da Copa
Em meio ao debate mundial acerca de atitudes racistas no futebol, as agressões mais recentes a jogadores brasileiros como Tinga, […]
Publicado 09/05/2014 17:48
Em meio ao debate mundial acerca de atitudes racistas no futebol, as agressões mais recentes a jogadores brasileiros como Tinga, Arouca e Daniel Alves foram episódios lamentáveis, que reacendem o debate sobre o racismo e a discriminação racial, ainda existente, no Brasil e no mundo.
O governo brasileiro, tendo o país como sede da Copa do Mundo, já havia pensado em uma campanha afirmativa no sentido de aproveitar esse grande momento de visibilidade mundial para abrir mais uma frente de luta contra esse fenômeno deletério. A presidenta Dilma Rousseff anunciou, depois da visita ao papa Francisco, com quem dialogou sobre o tema, que o pontífice escreverá uma carta contra o racismo no futebol que será lida antes do jogo de abertura da Copa, entre Brasil e Croácia, em São Paulo, no dia 12 de junho no Estádio do Corinthians. Esta é uma das ações que pode ter papel educativo e preventivo em face do racismo.
No Brasil, a injúria racial é crime previsto no Código Penal e passível de até três anos de prisão. Mas há ainda muitas dificuldades no que se refere à identificação do agressor que, muitas vezes sob anonimato, ofende e fica impune. É por isso que, no caso do futebol, são essenciais códigos de conduta e regulamentos que obtenham melhores resultados no sentido de punir com mais rigor.
A secretária nacional do PCdoB de Combate ao Racismo, Olivia Santana, em recente artigo descreve que essas demonstrações de discriminação exigem mais que campanhas pontuais de enfrentamento ao racismo: “Nenhuma instituição de futebol deve tolerar o racismo. A Fifa deve estabelecer regras objetivas e mecanismos de punição imediata que obriguem os clubes a combater atos racistas por parte de torcedores, comentaristas ou quem quer que seja. É preciso agir contra o racismo em nome de novos princípios civilizatórios”.
Por seu turno, o presidente nacional da Unegro (União de Negros pela Igualdade), Edson França, diz que é preciso aproveitar o momento de debate e fazer uma evolução crítica sobre o assunto. Segundo ele, toda e qualquer campanha contra o racismo é favorável e o aproveitamento da sensibilidade do povo, apoiado pelas redes sociais reforça esse diálogo. O debate é importante no sentido de trazer à tona a consciência antirracista e para tentar derrubar o segregacionismo.
O racismo se manifesta não apenas no futebol. No Brasil, são mais de 500 anos de opressão que não se revertem em pouco mais de 10 anos, por mais que esforços e energias sejam investidos nessa direção.
A secretária de políticas de promoção da Igualdade Racial, a ministra Luiza Bairros, reconhece os avanços no atendimento a muitas reivindicações da população negra brasileira nos últimos anos, a exemplo da lei de cotas para o ingresso nas universidades. Segundo ela, a melhoria do padrão de renda das classes menos favorecidas também ajudou no acesso aos bens de consumo e aos espaços antes povoados quase que apenas por brancos. No entanto, a ascendência do negro na sociedade ajudou a evidenciar o racismo, que deixa cada vez mais de ser velado, tornado-se explícito, aponta.
Sabemos que políticas públicas de natureza diversa vêm nas últimas duas décadas impulsionando a construção das bases para a igualdade. Indicadores socioeconômicos apontam uma melhoria nas condições de vida da população negra, bem como no acesso a serviços e direitos. Nesse período, homens e mulheres negros e negras viram sua renda, expectativa de vida e acesso à educação avançarem de forma mais acelerada do que as da população branca.
Entretanto, o racismo ainda resiste, e o mais espantoso é o índice de homicídios contra a juventude negra. Segundo o Mapa da Violência, os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Dados do Ministério da Saúde mostram que mais da metade dos 52.198 mortos por homicídio em 2011 no Brasil eram jovens (27.471, o equivalente a 52,63%), dos quais 71,44% eram negros (pretos e pardos) e 93,03% do sexo masculino. Estes dados sintetizam a força do racismo no Brasil e que há muito a fazer para superá-lo. Enfrentar o racismo significa lutar contra o autoritarismo que se alastra por toda a sociedade.
Em virtude da brutalidade crescente, a presidenta Dilma Rousseff, firmou um compromisso, em 2013, criando o plano Juventude Viva, que visa coibir a violência e promover a cidadania entre os jovens negros que vivem em situação de maior vulnerabilidade social.
A luta pela promoção da igualdade racial deve ser uma luta de todos os povos, é uma luta dos trabalhadores e de todo nosso povo na construção de uma sociedade justa, em que todos podem exercer, de fato, e igualitariamente, o direito à cidadania. Essa deve ser uma luta libertadora de toda a humanidade, de todos os povos.