“Zé da Cabra” e o PT
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Publicado 30/11/2006 19:47
Era um cara simples, magro, pernas arqueadas e abdômen proeminente, crânio avantajado, originário do meio rural, que se destacava entre os colegas de escola, num importante município do interior do Piauí, pela inteligência privilegiada e pelo domínio da matemática. Dava aula particular a vários dos seus colegas de turma. Carregava, entretanto, a incômoda alcunha de Zé da Cabra, adquirida por ter sido surpreendido, certa feita, em intimidades comprometedoras com um caprino do sexo feminino.
Porém sua grande aspiração era mesmo se iniciar num bordel, como era comum entre os da sua geração. Até que um dia, empregado no comércio, juntou uns trocados e foi à luta. Acontece – ele mesmo contava – que a ansiedade era tanta que mal se aproximou daquela que o atendeu, chegou rápido aos finalmentes. Mas foi logo avisando:
– Epa, dona, não valeu não! Deixe eu começar de novo, nem deu para sentir nada…
Se foi atendido, não se sabe. Mas ficou a lenda, alimentada ao longo dos anos pelo relato do causo.
Mutatis mutandis, pilhado em atitudes inconvenientes praticadas por alguns dos seus influentes e prestigiados quadros durante o governo que finda, o PT bem que poderia se desculpar junto ao presidente Lula:
– Vá desculpando, presidente. A ansiedade era muita, não tínhamos experiência com o poder central, o que aconteceu no seu primeiro mandato não valeu. Deixe a gente tentar de novo.
Tentar de novo, no caso, significa corrigir malfeitos praticados e rever concepções superadas.
Significa apoiar a idéia do governo de coalizão, pedra de toque do segundo mandato. Abrir mão de parte dos espaços ocupados, ao excesso, na estrutura do governo federal, em Brasília e nos estados, dando margem a que outras forças políticas possam efetivamente compartilhar a administração. Ajudar na eleição do presidente da Câmara dos Deputados, eximindo-se de repetir a trapalhada anterior, que levou à vitória de Severino Cavalcanti. Além disso, empenhar-se na mobilização da sociedade para dar respaldo às consignas que vêm sendo reverberadas por Lula: desenvolvimento com distribuição de renda; educação de qualidade; integração e unidade do subcontinente sul-americano.
A analogia pode parecer forçada, mas vale a lição colhida pelo indigitado piauiense que foi com muita sede ao pote e se complicou todo.
O PT não pode errar de novo.