Marca antiimperialista do Foro São Paulo

O XIII Encontro do Foro de São Paulo, realizado entre os dias 12 e 15 de janeiro, em El Salvador, teve como marca principal a luta contra a ingerência e a agressividade imperialista dos EUA na América Latina e Caribe. Esta foi a tônica dos atos de abertur

Colonialismo anacrônico



A segunda mesa abordou as várias formas de ingerência imperialista, o colonialismo e os acordos de paz firmados na América Central. Ela foi coordenada por José Reinaldo Carvalho, secretário de relações internacionais do PCdoB. Cinco expositores trataram dos temas. Julio Pérez, dirigente do Movimento Independentista Nacional Hostosiano (MINH) de Porto Rico, tratou do colonialismo, uma aberração do passado que ainda persiste e é pouco conhecida pela militância de esquerda em nosso continente.



“Neste encontro estão presentes organizações de cinco países que ainda são colônias formais – três das Antilhas, um da África e um da Ásia. A própria ONU condena a colonização, mas de forma burocrática. Porto Rico é a maior colônia dos EUA na atualidade, o seu povo é explorado e humilhado, mas luta pela independência. Já Curaçao, colônia da Holanda, serve de base militar da OTAN, está bem próxima da Venezuela e tem papel geopolítico estratégico. Os partidos do Foro precisam assumir posição mais firme de denúncia e combate a este atraso”, conclamou Júlio Pérez.



Eixo estratégico da integração



Na seqüência, José Reinaldo Carvalho apresentou uma visão mais totalizante sobre o papel agressivo do imperialismo nos dias atuais. “Não é possível entender a estratégia dos EUA em nosso continente, sem entender a crise que hoje afeta a sua hegemonia no mundo todo. O imperialismo vive uma crise sistêmica, crônica e prolongada e, como resposta, aumenta sua agressividade. Ele não aceitará perder, passivamente, o seu poder. Fará de tudo para perpetuar a sua dominação. No momento, a sua atenção se concentra não Oriente Médio, em decorrência dos problemas energéticos e da disputa geopolítica com países rivais na região, como China e Rússia. Mas ele está muito atento aos avanços da esquerda em nosso continente”.



Para ele, as forças de esquerda na América Latina, animadas com os seus avanços recentes, não devem subestimar a capacidade do imperialismo. “No passado recente, algumas forças chegaram a afirmar que a luta antiimperialista perdera a importância. A vida demonstrou o erro desta análise. É preciso intensificar ainda mais a luta contra o imperialismo. Não há sinais apenas da sua ofensiva; o outro sinal é o da luta revolucionária e patriota, que está ainda mais atual. O eixo estratégico da integração regional é o da luta antiimperialista. A nova etapa em nosso continente não é de cedência e de adaptação, mas de resistência”.



Acordos de paz



Já no que refere aos acordos de paz, firmados na década passada na Nicarágua, El Salvador e Guatemala, dirigentes das três organizações revolucionárias destes países – Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) e Unidade Revolucionário Nacional Guatemalteca (URNG), falaram sobre o significado destes tratados históricos, de seus avanços e limites.



“O acordo de paz foi descumprindo na Nicarágua e a FSLN foi marginalizada do cenário político, sendo duramente atacada pela direita. Depois de quinze anos de resistência, a frente estabeleceu nova estratégia, que tem criticas, mas que permitiu a nossa vitória eleitoral. Decidimos jogar com as regras do jogo e usar de diversos artifícios. Evitamos a formação de uma frente anti-sandinista, que vingou em todas as outras eleições, e procuramos atrair os aliados. A direita e os EUA tentaram criar um clima de medo, falaram da volta ao passado, da guerra, da fuga dos investimentos econômicos. A mídia foi usada como ferramenta desta política do medo. Mas nós vencemos o medo. Os acordos de paz agora passarão a dar novos frutos”.



No caso da Guatemala, os acordos tiveram um resultado contraditório. Permitiram a democratização do país, mas não o enfrentamento dos problemas sociais que geraram o conflito armado. “Comemoramos os 10 anos dos acordos de paz, que foram fruto do processo da luta popular. Saída negociada exigia atacar as causas da guerra e a URNG incluiu quatro exigências: respeito aos direitos humanos, o assentamento e a indenização das vitimas da guerra; reconhecimento dos povos indígenas; reconhecimento do poder civil e requalificação do poder militar; e um novo modelo de desenvolvimento. Conquistamos a democracia liberal, mas a pobreza recrudesceu. Encaramos os acordos como uma vitória do povo e como ponto de partida para a ampliação da democracia e a luta contra as injustiças sociais”.



Por último, Lorena Pena, a comandante Rebeca, da FMLN, afirmou que os acordos firmados há 15 anos “significaram a derrota da ditadura militar que por seis décadas matou e oprimiu o povo. Eles acabaram com o aparato militar que torturava e matava, abrindo espaço para diferentes forças políticas, em especial a esquerda. A FMLN se converteu num partido político eleitoral e social e conquistou inúmeras vitórias. Hoje dirige 40% das cidades e é a primeira força no parlamento. Mantém o estatuto de partido socialista, revolucionário e de esquerda; não cedeu. Mas houve um paradoxo: avançamos na democracia, mas retrocedemos no campo econômico e social. A FMLN não vai ceder um milímetro no espaço democrático decorrente da luta armada. Luta para garantir os acordos de paz e trabalha para derrotar a direita (Arena)”.

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