O Projeto e a Ideologia
Em uma das excelentes crônicas de Gabriel Garcia Marques, publicadas pela Record, o escritor lembra Sartre. Diz que o filósofo, romancista e ativista declarou que “a consciência de classe começa quando alguém descobre que é impossível mudar de classe”. A
Publicado 17/02/2007 14:40
Através de alguma experiência militante presenciei muitas pessoas adquirirem a clareza do campo em que combatem. No entanto, somos testemunhas de duas conseqüências bastante concretas sobre o tema.
Muitos evoluem, com acertos e erros, para escalas maduras da luta de classes enquanto outros tantos declinam das suas convicções por confusões teóricas, políticas. Alguns são atraídos pelas facilidades de trafegar no sentido da ordem estabelecida.
Afinal é preciso traçar com selvagem individualismo os caminhos da escalada social, mergulhando de cabeça, com profundidade na sociedade de consumo, sob a pressão familiar ou por decisão própria. São casos banais, corriqueiros, conhecidos amplamente em todos os lugares.
Aqueles que persistem na senda da libertação nacional e social, contribuindo na peleja pela soberania política do país e dos trabalhadores, em geral não se consideram sabichões e proprietários da pedra filosofal ou inquisidores das idéias alheias. Ao contrário, estão sempre aprendendo pelos caminhos sinuosos da luta política concreta.
Por isso é que ouso considerar confusa a frase do grande francês. A consciência de classe não cai do céu como uma revelação ou como uma espécie de estalo no cérebro. Mesmo fruto de muita leitura associada à batalha cotidiana ela não é irreversível. Trata-se de um exercício permanente.
A consciência marxista de classe dos oprimidos a que Sartre menciona é fruto da junção entre a teoria e a prática. Senão perde a seiva e torna-se cinzenta, parodiando Goethe, o gigante escritor alemão.
Nesse sentido, urge, na atualidade, contribuir para a vitória de um projeto nacional com inclusão social. Para tanto, a necessidade da habilidade, a inspiração para arregimentar amplas forças políticas, sociais, dispostas a levá-lo à frente. Enfrentando os poderosos contingentes conservadores que emperram o desabrochar de um Brasil soberano e intenso de justiça social.
Desse e outros antagonismos, penso, brota a consciência de classe, a solidariedade internacional, o sentimento da cultura e identidade nacional.