Matutando sobre as eleições: urge re-significar a democracia
Tenho fama, desde criança, de ser ''perguntadeira'', ''respondona'', que gosto de ''teimar'' e de ''questão''. Traduzindo o maranhansês sertanejo: ''perguntadeira'' é alguém antenada, que busca se informar; ''respondona'' é alguém que reage diante do que
Publicado 05/11/2008 21:28
Por ''gostar de questão'', fui aconselhada por meu avô a ser advogada. Conselho que, como sabem, não ouvi. Optei por ser médica e sou feliz assim. Apenas, só pro meu gasto íntimo, sinto que ele era um homem de visão de longo alcance porque, se compararmos o que ganha quem cursou direito e incursionou pelo Ministério Público ou Judiciário, com quem peleja na medicina, como eu, foi uma que perdi na teima com o velho sábio Braulino…
Eram quatro defeitos graves a complicar a minha vida e pelos quais paguei ''novos e velhos'' a uma palmatória, em nome de que ''é de pequeno que se torce o pepino''. Pouco adiantou. Ou os corretivos foram em vão. Hoje compreendo que os meus quatro defeitos graves na esfera familiar de muito me valeram na vida, pública e privada, e são a espinha dorsal do meu livre-pensar.
Deixemos os floreios. Vamos ao que interessa. Passamos, pelo menos eu passei, o ano de 2008 matutando sobre eleições. No Brasil e nos Estados Unidos. Escuso-me de justificar porque as eleições nos EUA merecem a minha atenção. Limito-me a transcrever um trecho que escrevi em 2004.
''Acompanho com interesse as campanhas para a Presidência dos EUA. É um absurdo inaceitável a gente, quero dizer o mundo todo, não votar para presidente dos EUA. Fico danada. É um contra-senso. Até um espirro do presidente norte-americano reverbera no cotidiano das pessoas do mundo inteiro, logo é injusto que na hora de escolher o dito cujo a gente não opine! É cerceamento de um direito. Não entendo como nos EUA pessoas de esquerda, esquerda mesmo, em geral não votam porque consideram que democrata ou republicano são 'farinha do mesmo saco'. Com alguma razão
Cresci ouvindo a história da 'mala do presidente'. Diziam que o presidente dos EUA portava uma mala explosiva, com um botãozinho que, se apertado, mandaria para os ares qualquer civilização, num piscar de olhos. (''Quero votar pra presidente… dos EUA''. O TEMPO, 11.2.2004). A minha opinião continua a mesma. Mas hoje, das urnas estadunidenses, pode emergir que a consciência política do povo norte-americano cresceu exponencialmente, ainda que tangida pela crise econômica, mas também, em certa medida, pelos embates postos pelos fundamentalismos.
Sobre as eleições municipais, penso alinhavar um artigo sobre o fazer política local focada na cidadania e na busca de uma nova institucionalidade democrática: a democracia participativa, tendo como eixo a necessidade de fortalecer a disputa política de re-significar o conceito de democracia, que exige um novo contrato social diante da crescente desmoralização da democracia representativa vinculada ao sistema e aos partidos políticos, em âmbito global. Eis uma tarefa dos setores contra-hegemônicos, notadamente os movimentos sociais da nova geração de direitos, que ''inventam e reinventam'', de forma criativa, espaços de controle social, um processo fluido e ainda experimental de democracia participativa. O rumo é por aí.