Hip-Hop um apoio ingrato para Obama

Manos e minas de todas as partes do planeta, esta foi pra lavar a alma. Ou até mesmo para nos fazer acreditar que sempre se pode sonhar com as mudanças, e melhor ainda, agir para que esta aconteça.

 


 


 


Você se lembra do sentimento que teve quando assistiu ao filme dos Black Panters? E quando assistiu ao filme do Malcon X? Ou o ''Faça a coisa certa'' do Spike Lee?


 


 


Ou então quando vimos em 1992 em Los Angeles o espancamento que Rodnei King sofreu de sete policiais brancos que diziam bater nele apenas porque ele era negro? E depois deste fato uma convulsão social tomou conta de toda costa leste dos Estados Unidos. E o massacre que a máquina de guerra dos EUA já fizeram a vários países mundo a fora.


 


 


E as ditaduras na América Latina financiada pelos EUA e dirigidas pela CIA? O que sente quando vê aquelas imagens da grande marcha de um milhão de negros a Washington liderados por Martin Luther King em 1963, e em meio à multidão ele faz o seu discurso intitulado ''I have dream''?


 


 


Este sonho de Luther King ainda esta muito longe de ser concretizado, não é elegendo um negro para presidente da Nação mais poderosa do mundo que se dará o fim do racismo no mundo e nem mesmo lá naquele país.


 


 


Os negros e negras norte-americanos sabem muito bem disto. O próprio Obama sabe muito bem disto.  Obama conseguiu traduzir o anseio de muita gente, conseguiu atrair o sentimento dos hispânicos, dos operários e de uma classe média proletarizada e empobrecida. A grande coalizão nacional pelas mudanças.


 


 


A figura de Obama como encabeçador desta coalizão simboliza o papel destacado do principal setor que sempre lutou por mudanças na sociedade americana.


 


 


A migração nos Estados Unidos teve um movimento inverso que no Brasil, enquanto aqui os migrantes vinham das regiões norte e nordeste para o sul que era industrializado, lá era do sul para o norte. Então estes migrantes das fazendas e lavouras iam trabalhar como operários e mão-de-obra barata nas grandes indústrias do norte.


 


 


Nestas regiões os negros foram isolados em bairros apelidados de guettos, sem infra-estruturas do Estado, sem condições de estudos, sofrendo com a opressão sistemática dos aparatos repressivos ao que podemos chamar de extermínio programado, sobrevivendo com os piores salários e os trabalhos mais inferiores da cadeia produtiva.


 


 


O tráfico de drogas e de armas que movimenta bilhões de dólares nos EUA, aproveita-se desta situação de miserabilidade da população negra norte-americana para ter sua reserva de mão-de-obra e assim sustentar a cadeia de produção da criminalidade.


 


 


Num país com 300 milhões de habitantes, existe um encarcerado para cada grupo de 137 pessoas. É a maior população carcerária do mundo onde mais de 90% desta população é constituída de negros, hispânicos e imigrantes.


 


 


A população branca, protestante e de classe-média percebeu que esta crise não é apenas mais uma daquelas crises cíclicas passageiras ao qual eles já até estavam acostumados e que hora soprava aqui ou ali em alguma parte do mundo sempre que Wall Stret espirrava.


 


 


O que esta população identificou em Obama foi à proposta de mudança. O fator de ele ser negro corroborou com esta identificação, pois a população negra norte-americana sempre lutou por mudanças. Ou da onde mais poderia vir proposta tão intensa e significativa de mudanças?


 


 


Daqueles um milhão de rostos que estavam no Gren Park em Chicago na noite de terça feira dia 4 de novembro, vi alguns negros e negras ilustres sendo focalizados no meio da multidão. O hino nacional norte-americano foi interpretado pela rapper Quen Lathifa, a abertura da fala foi feita por um reverendo negro, mas a maioria esmagadora das pessoas que estavam ali eram brancos, bem vestidos, com seus equipamentos eletrônicos registrando os momentos, não preocupados com o passar das horas o que demonstra que chegaram ali de veículos próprios e felizes por terem contribuído com este momento.


 


 


A população maciça dos guetos não estavam lá. Mas mesmo assim foram o núcleo desta onda mudancista norte-americana. Um jovem numa quadra de basquete num gueto de Chicago sentenciou o que era votar em Obama para eles: ''Se você é negro e não votar em Obama, você perde sua carteirinha de negro aqui no nosso meio''.


 


 


Não perderam o sentimento que os ligavam diretamente a Obama, mas entenderam que ele teria que ser o candidato de muito mais gente. Os 18% de negros daquele país sozinhos não poderiam torna-lo eleito.


 


 


Num certo dia durante o período de campanha todos os jornais do país noticiaram que os cantores de rap, todos sem exceção estavam fazendo campanha e pedindo votos para Obama. O título dos jornais diziam: ''Hip-Hop um apoio ingrato para Obama'', com isto tentavam colar em Obama o preconceito do qual padecem a grande parte dos artistas do rap nos EUA. Obama foi sabatinado pela imprensa para dizer sua opinião sobre mais de uma dezena de artistas do meio. Óbviamente teve que ser duro e critico com alguns grupos. Ao tecer suas opiniões e mostrar que conhecia sobre o meio os jornais estamparam a seguir: ''Obama ouve rap''.


 


 


Chegaram a estampar nos jornais a capa de alguns livros que tiveram sido lidos por Obama para insinuarem que seu ideário era de líder racial e até mesmo socialista. E tudo isto foi em vão para os conservadores.


 


 


As três e meia da madrugada da terça para quarta do dia 4 de novembro eu assistia ao vivo pela televisão o discurso do recém eleito presidente dos EUA, Barack Hussein Obama.


 


 


Lavei a alma quando ele contou sobre a senhora de 106 anos que foi votar num colégio em Atlanta. Lavei a alma quando ele falou que os lucros de Wall Street não podem estar acima do bem estar nas outras streets, (nas ruas). Lavei a alma quando ele falou que os EUA mostraram que não querem mais ser lembrado por sua indústria de guerra, mas sim um país onde tudo ainda é possível.


 


 


Porra velhão, onde vai dar esta história ninguém sabe ainda, o que comprova inclusive que ela não acabou, ao contrário do que alguns diziam. Mas que deu pra dar uma lavada na alma, ah isso deu.


 


 


 

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