Popularizar a causa palestina
Tão nauseabundo quanto assistir as atrocidades patrocinadas por Israel é testemunhar as justificativas para esse genocídio ao povo palestino.
Publicado 02/01/2009 21:43
Tudo isso faz lembrar uma passagem do livro “Os irmãos Karamazov”, de Fiodor Dostoievski, em que um médico, lá pelas tantas, relata mais ou menos o seguinte: “Eu – dizia ele – amo a humanidade, mas acho muito estranho este meu sentimento, pois se amo a humanidade em geral, cada vez mais detesto os homens em particular: isto é, como seres isolados, como indivíduos”. Talvez seja um pouco esse o sentimento que nos invade ao ouvir as explicações de membros do governo israelense (e de seus cúmplices) e tantos outros porta-vozes do sionismo pelo mundo afora, quando defendem os ataques à Palestina.
A ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, estapeia a cara de todos os povos ao dizer que “até agora Israel vem tendo uma atitude de contenção. Mas, neste momento, não nos restou outra opção senão o lançamento de uma operação militar”. Qual é a opção do povo palestino então? Capitular?
Até mesmo no portal Vermelho, na sua seção Fala Povo, há um comentário no mínimo instigante que ajuda a revelar a lógica fascista da política de Israel e o pensamento repressivo que comungam seus adeptos. O leitor Laudo Leon tenta justificar os ataques que resultaram em mais de trezentos mortos e mais de mil feridos, entre eles crianças, mulheres e idosos, afirmando que a culpa é do Hamas por ter se infiltrado covardemente no meio da população civil indefesa. A justificativa é tão desprezível que mesmo se o Hamas fosse uma organização terrorista nada abonaria a aviação israelense despejar 100 toneladas de bombas sobre a população civil indefesa e promover uma limpeza étnica com seus F16. Pergunto a esse mesmo leitor o que ele pensaria se acaso sua família fosse seqüestrada por bandidos e se a polícia disparasse matando a todos, bandidos e inocentes, alegando triunfante no final dessa macabra empreitada que os bandidos eram covardes ao usarem inocentes como reféns, e que a única saída era matar todos. Entretanto, o que ocorre em Gaza é diferente desse exemplo, pois nem o Hamas é o bandido e muito menos Israel é o mocinho da história.
A história, ao longo dos últimos 60 anos, é repleta de fatos que comprovam a natureza terrorista de Israel. O atual massacre, que é parte da estratégia militar que se aproveita da transição política nos EUA e os últimos momentos de Bush no poder, é apenas mais um ataque entre tantos outros. E nas relações diplomáticas é diferente?
Israel, como parte de sua política atrelada aos EUA, se expõe ao ridículo de, ao lado de seus protetores, votar sistematicamente pela manutenção do bloqueio econômico a Cuba, que mesmo assim completa hoje 50 anos de sua Revolução. Em meio a quase duzentos países que pedem o fim do bloqueio, EUA e Israel (e geralmente alguma outra ilhota colônia estadunidense) persistem, todos os anos, em votar contra Cuba na Assembléia Geral das Nações Unidas. Nem mesmo a Colômbia de Álvaro Uribe se sujeita a tal coisa.
Diante da escalada militar de Israel, entidades do movimento social convocaram reunião para esta última segunda, em São Paulo, onde trataram sobre formas de protesto e solidariedade ao povo palestino. Entre as várias propostas que surgem no Brasil e no mundo estão a intensificação de campanhas pelo boicote, desinvestimento e sanções contra Israel além de abaixo-assinados, passeatas, moções, entre outras.
Mas há uma forma de luta contra o sionismo israelense que não pode ficar de fora do rol de iniciativas de protestos: a popularização e divulgação da história de lutas e resistência palestina.
A título de exemplo, os dois maiores públicos já registrado em palestras estudantis na Universidade Federal de Viçosa, patrocinada pelo DCE, foi justamente com embaixadores árabes: um deles o da Palestina. Nunca se encheu tanto o imenso Centro de Vivência nessas ocasiões.
O movimento estudantil organizado pode e deve promover atividades que debatam a questão palestina nas escolas e nas universidades. È preciso romper o cerco midiático que protege essa carnificina. Mais: é fundamental alertar sobre a limpeza étnica promovida por Israel que tenta enganar a opinião pública se passando como vítima do terror, pretexto para fazer uso da guerra preventiva, mesmo conceito dos EUA.
Os estudantes são os mais sensíveis a esses temas e os mais dispostos a lutar contra toda e qualquer injustiça. Promover uma série de debates nas principais escolas e universidades, como uma espécie de Caravana pela Paz, ajudaria muito a desmascarar as políticas do imperialismo no Oriente Médio.
Saudemos os 50 anos da Revolução Cubana irmanados no internacionalismo proletário, um dos pilares básico do socialismo científico, em defesa da causa palestina. Popularizemos essa luta que pertence a todos nós, inclusive aos judeus.