Amazônia: nós somos intrusos?

Nos “Sertões” Euclides da Cunha concluiu que ‘o sertanejo era antes de tudo um forte’ e, na “À margem da história”, que ‘o seringueiro era um tipo de lutador excepcional’. Estava correto.

Afinal, viver num ambiente de sol causticante, sem florestas e com escassez permanente de água não é tarefa para qualquer um. De igual modo, sobreviver num ambiente de sol intenso, umidade relativa superior aos 95% e de floresta densa e traiçoeira infestada de pragas e feras exige, de fato, habilidades e determinações excepcionais.


 



Euclides da Cunha tomou conhecimento da complexidade amazônica quando chefiou a “comissão de reconhecimento das nascentes do rio Purus”, logo após a inclusão dessa região ao Brasil nos anos iniciais de 1900. Constata que ‘devido ao egoísmo desenfreado dos patrões opulentos, o homem ali trabalha para escravizar-se’, o que lhe faz recomendar a adoção de leis trabalhistas (em 1906) para que ''salvemos aquela sociedade obscura e abandonada''.


 



O seu impacto foi tamanho que ele exagera ao concluir que “o homem, ali, é um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido – quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão. E encontrou uma opulenta desordem…”.


 



A desordem corresponde à formação geológica de uma região que ainda – até hoje – está definindo o leito de seus rios e a sua própria conformação geomorfológica. Todo ano boa parte de seus rios mudam de leito, encontram outras veredas por onde singram. Carregam milhões de m3 de sedimentos que são lançados na formação de novas ilhas, praias – muitas das quais desaparecem no ano seguinte – e “bancos de areias” ao longo dos rios, o que faz com que o comando dos navios que adentram a Amazônia seja privativo de “práticos” e não de oficiais da marinha mercante.


 



E o ‘intruso homem’ a que se refere Euclides da Cunha é certamente o migrante europeu, asiático ou o mestiço brasileiro que para lá se dirigiu orientado pelas mais distintas motivações: da pesquisa ao puro saque de suas riquezas, passando pela tentativa de escravizar os índios e de se apropriar de parte ou do todo da Amazônia.


 



Pois, quando Euclides da Cunha visitou a Amazônia, lá já habitavam alguns milhões de nativos genericamente chamados índios, atualmente reduzidos a milhares, mas que ainda hoje falam mais de uma centena de línguas.


 



Um século depois do relato euclidiano há alterações, sem dúvidas, nesse cenário. Mas o ‘luxuoso salão’ continua sendo arrumado pelo ‘capricho’ da natureza, num longo e paciente processo de acomodação geomorfológica.
E é essa imensa e complexa região, por razões óbvias, que jamais sai de cena. Onde opiniões se põem e se contrapõem aparentemente para justificarem uma mesma posição. Mas a concordância é apenas aparente.
Grosso modo o que está sempre presente e, em última análise, cria campos antagônicos é a noção de soberania nacional sobre a Amazônia. De um lado os que sustentam que “a Amazônia é patrimônio da humanidade” e de outros a nossa opinião de que “a Amazônia é patrimônio nacional”.


 



Secundariamente outros temas recorrentemente freqüentam o debate quando se trata de Amazônia: demarcação de terras indígenas, aquecimento global, queimadas e a própria lei de arrendamento de floresta.


 



O partido vem enfrentando, de forma madura e responsável, cada um desses temas. É uma exigência contemporânea para um partido que vive o mundo real e tem a justa pretensão de ser uma alternativa estratégica de poder, do poder socialista.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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