GM estatizada evidencia o fracasso do capitalismo americano
A General Motors, outrora o maior símbolo do poderio econômico dos EUA e agora, à beira da concordata, será estatizada. Um “acordo
extraoficial” com os credores e o governo Obama, informado pela
direção da empresa nesta quinta-feira (28) à Securitie
Publicado 29/05/2009 18:58
O governo esclareceu que se a montadora decidir buscar a proteção da
lei de falências americana e receber a aprovação do tribunal de
falências para a venda de praticamente todos seus ativos ao Tesouro
americano, a nova empresa apoiada pelo Tesouro americano (New GM)
aceitará adquirir tais ativos.
“Governo Motors”
A nova GM já está sendo apelidado pelo povo e também pela mídia de
“Governo Motors”. O fato parece traduzir uma fina ironia da história.
Quem diria que Tio Sam (logo ele), principal autor da ideologia
neoliberal e de um consenso (de Washington) que demonizou a
intervenção do Estado na economia e transformou o mercado capitalista
num Deus pagão virtuoso e infalível, seriam constrangidos a negar as
próprias crenças e recorrer aos poderes do leviatã para salvar aquela
que já foi o símbolo de sua decadente indústria.
O governo promete injetar mais 50 bilhões de dólares para ressuscitar
a GM e viabilizar sua sucessora. Abandonada às próprias leis do
mercado, a montadora estaria condenada à morte. O colapso dos grandes
bancos e principais conglomerados do outrora próspero e exuberante
sistema financeiro americano tampouco seria evitado sem a intervenção
da Casa Branca.
Registre-se que o socorro bilionário não se destina a defender os
interesses dos operários e operários da empresa. O plano em curso
objetiva uma redução substancial dos custos e preconiza o
“enxugamento” do quadro de funcionários, o que significa demissões em
massa e a intensificação do deslocamento da produção para o exterior
(principalmente China e México), onde a taxa de exploração da força de
trabalho (refletida nos baixos salários) é infinitamente maior.
Estado capitalista
Que ninguém se iluda. Os bilhões do Tesouro americano são destinados
ao capital e ao capitalismo, não visam minorar o sofrimento das
famílias operárias. É a mesma lógica que presidiu os pacotes de 1,45
trilhão de dólares baixados pelos governos Bush e Obama com o
propósito de resgatar o sistema financeiro. Centenas de bilhões de
dólares foram canalizados para os mesmos bancos que já desalojaram e
condenaram ao olho da rua milhões de trabalhadores e trabalhadoras que
perderam seus empregos com a crise, através das ociosas execuções
hipotecárias.
Somente em abril deste ano, mais de 342 mil pessoas receberam
notificação de despejo, um crescimento de 32% em relação ao mesmo mês do ano passado. Isto continua a ocorrer apesar das promessas de Obama e dos próprios bancos, que especularam com a miséria alheia por meio dos empréstimos denominados “subprime”, de que iriam interromper as execuções. A conduta do governo no socorro ao banco e às montadoras revela o caráter de classe do Estado no capitalismo moderno e prova a mais completa subordinação do poder público aos interesses dos grandes monopólios nos EUA.
Decadência
A melancólica situação da GM, por seu turno, reflete com notável
fidelidade o parasitismo e a decadência da economia norte-americana,
que prossegue de mãos dadas com o crescimento desigual das nações e o progressivo deslocamento do eixo da dinâmica da produção industrial e
do poder econômico do chamado Ocidente para o Oriente.
Já não restam muitas dúvidas de que o futuro da indústria, inclusive
no ramo automobilístico, está sendo desenhado na Ásia, China, Índia e
Coréia, principalmente, além (é claro) do Japão.
De todo modo, a sorte das montadoras nos EUA evidencia também os
limites do modo capitalista de organizar a produção e assinala, em
particular, o fracasso do capitalismo americano. A necessidade
objetiva de que o Estado assuma as rédeas da economia é tão forte e
candente que, mesmo a contragosto, nem os liberais mais renitentes e
dogmáticos (estadunidenses e britânicos) podem hoje ignorar ou
contornar. A estatização não significa necessariamente socialismo, mas
é sintomática da falência do capitalismo.