Sobre talentos e celebridades que apenas a morte santifica

Pense numa pessoa de sorte! É o patriarca José Sarney. Ô, bicho que tem poder! Tem Lula aos seus pés. Não é sorte, é po-der! Mas vai ficar devendo mesmo a Michael Jackson. São tantos os assuntos instigantes na última semana que não consigo escolher s

Prometi ao meu eu profundo não falar sobre Michael Jackson, de quem a rigor nunca fui fã. Talvez por ignorância musical pop; por não entender sua arte, o talento e o encanto que fluíam de suas performances. Não resisti. A overdose midiática da morte do pop star empanou a gripe suína, a doença da presidenciável Dilma e o mangue do Senado, onde Sarney está pulando mais do que cancão de fogo. Bendita morte para muita gente!


 


 


Até para o morto, que auferiu os benefícios da voz do povo: ''todo morto vira santo''; ou a ''morte santifica as pessoas''. ''Quer virar santo? Então morra!'' É que ''morreu o bicho, acabou-se a peçonha''. Fazer o que, não é? ''Os mortos não voltam mais.'' Então, descanse em paz, Peter Pan!


 


 


Especula-se que Michael Jackson era portador de lúpus, de vitiligo, que usou hidroquinona para embranquecer. Virou dependente químico (morfina e demerol), hipocondríaco e cheio de excentricidades só explicáveis pela psiquiatria. Narcisista, exibia exuberante quadro psiquiátrico: dismorfia corporal – distorção da imagem pessoal. Há coisas misteriosas sobre a saúde dele que só o dr. Conrad Robert Murray, cardiologista, seu médico pessoal, poderá tornar públicas, caso queira. Muitas coisas ele jamais dirá, pois estão sob o manto do segredo médico.


 


 


A pergunta que não quer calar é qual a dimensão do tributo que ele pagou ao racismo?  Michael Jackson é astro de primeira grandeza, inovador, criativo e multifacetado (poeta, compositor, cantor, dançarino e produtor), um ícone que construiu um legado musical primoroso – um talento que se desmilinguiu na esteira das acusações de pedofilia, das quais se livrou legalmente, mas moralmente não. Uma acusação de pedofilia é uma mancha moral indelével. Deixa para sempre a dúvida no ar, do tipo: ''Onde há fumaça, há fogo''.


 


 


 


Falam que fugia de sua negritude e que não assumiu sua homossexualidade – especulações que não sabemos o quanto de verdade encerram. A pergunta que não quer calar é: qual a dimensão do tributo que ele pagou ao racismo? Sua música tem raízes negras, deu status ao break, idealizou o ''We are the world'' – solidariedade pop à África (1985). Sabe-se por quê? A sua Heal the World Foundation (1992) doou milhões de dólares para crianças vulneráveis por causa de guerras e doenças no mundo.


 


 


Suas relações com as mulheres foram curtas e confusas. Pelo menos quanto ao que é público dos dois casamentos. A mãe do seu caçula é uma incógnita até agora (uma suposta barriga de aluguel?). E a posse sobre os três filhos revela uma forma obsessiva de paternidade. Intuo, não sei, que a vida sempre foi um fardo pesado demais para ele. A morte precoce abreviou o seu sofrer.


 


 


Disse que apanhava muito do pai na infância. A cantora La Toya, sua irmã, declarou que o pai, Joseph Jackson, abusava sexualmente dos filhos, até dela. A partir de uma psiquiatria de botequim, poderíamos dizer que o rancho Neverland (Terra do Nunca) é uma imagem da infância que ele não teve, pois já era profissional da música aos cinco anos de idade (Jackson Five). Sobre o rancho, ele declarou: ''Eu queria ter um lugar onde eu pudesse criar tudo o que eu nunca tive na minha infância''. Merece ser enterrado lá.

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