A luta Pela Eliminação da Descriminação Racial II
No dia 21 de março de 1960, na cidade de Joanesburgo, capital da África do Sul, 20 mil negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular.
Publicado 25/03/2010 00:35
No bairro de Shaperville, os manifestantes se depararam com tropas do exército. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. Esta ação ficou conhecida como o Massacre de Shaperville. Em memória à tragédia, a ONU – Organização das Nações Unidas – instituiu 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
O Artigo I da Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial diz o seguinte:
“Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública".
O racismo se apresenta, de forma velada ou não, contra vários seguimentos, mas, sobretudo os Negros
Brasil, onde os negros representam quase a metade da população, chegando a 80 milhões de pessoas, o racismo ainda é um tema delicado.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD – em seu relatório anual, "para conseguir romper o preconceito racial, o movimento negro brasileiro precisa criar alianças e falar para todo o país, inclusive para os brancos. Essa é a única maneira de mudar uma mentalidade forjada durante quase cinco séculos de discriminação”.
Aproveite esta data para refletir: você tem ou já teve atitudes racistas?
Existem raças humanas?
Em 1758, o botânico sueco Carolus Linnaeus – Criador do atual sistema de classificação dos seres vivos- deu a humanidade o nome cientifico de “Homo sapiens” e como, digamos, brinde a dividiu em quatro subespécies: Os vermelhos americanos como “geniosos, despreocupados e livres”, os amarelos asiáticos “severos e ambiciosos”, os negros africanos, “ardilosos e irrefletidos” e os brancos europeus, “ativos, inteligentes e engenhosos” evidentemente.
Estava aberta aí a discussão sobre a existência de raças humanas e o valor de cada uma. Esta teses nunca foram, obviamente comprovadas, muito pelo contrário, mas serviu e ainda serve para justificar muitos crimes ainda hoje praticados. Talvez exemplo mais vivo desta sandice com ares de ciência, foram às câmaras de gás nazistas, cuja “tecnologia” teve como base esta.
No século XX alguns cientistas europeus, em particular após a 2ª guerra, difundiram também sem muita convicção que toda as diferenças entre os humanos estavam na cultura.
Mas a idéia de que raças humanas biologicamente não existem foi reforçada nos anos 70 do século passado, quando pesquisas analisaram as diferenças entre as proteínas de diversas populações. Os seres humanos estavam muito longe de apresentar uma diversidade comparável à de espécies que de fatos possuem raças como elefantes e ursos, por exemplo.
Na verdade a diferença entre dois chimpanzés de uma mesma colina na África pode ser maior que o dobro da existente entre os mais de 6 bilhões de humanos que habitam o planeta.
Há quatro anos uma equipe de sete pesquisadores dos Estados Unidos, França e Rússia compararam 377 partes do DNA de 1.056 pessoas de 52 populações diferentes existentes em todos os continentes. O placar final foi:
Entre 93% e 95% da diferença genética entre os humanos é encontrada nos indivíduos de um mesmo grupo e a diversidade entre as populações é responsável por apenas 3% a 5%. Ou seja, dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais semelhança com o de um norueguês do que com alguém de sua cidade. Quer dizer que a diversidade entre as populações está nas diferentes freqüências de traços que são encontrados em todo lugar, como diz o biólogo Noah Rosemberg da Universidade do Sul da Califórnia.
Na verdade a polêmica existente no meio tem base real, ainda que pequena, mas real, pois nestes mesmos estudos aparecem diferenças entre as populações que são visíveis no genoma, algumas pessoas podem chamar isso de raça, outras não, mas o fato é que a diversidade existe, apesar de representar uma fraca bem pequena da nossa constituição genética, diz o mesmo Rosemberg.
Na verdade o conceito de raça é mais político do que cientifico, “Os brasileiros acreditam em raças, então elas existem” vaticina nosso colega da USP, Antonio Sergio Alfredo Guimarães.
Elas são uma categoria de exclusão e dominação que traz problemas na realidade mesmo que não existam biologicamente, elas criam vítimas, como fala Kabengele Munanga, também da USP. Finalizando, ao menos nas cabeças das pessoas elas existem e a partir daí são bem reais e temos que atuar considerando isso. Afinal o racismo existe e é um mal terrível para o mundo e temos que combatê-lo.
Mas e o racismo? Vem de quando, como surgiu?
Bem este é um assunto para o próximo artigo…
O importante somos nós aproveitarmos esta data para juntos: Militantes, Acadêmicos, Atores Sociais, Políticos e liderança, refletirmos de como desenvolver ações no vários âmbitos existentes para reduzir e erradicar tais mazelas que ainda fortemente permeiam muitas das ações que sofremos e muitas vezes, achamos tão comum que deixamos “pra lá”
Dia 21 de março precisa ser mais valorizado pelo movimento negro brasileiro como forma de introduzir nas instituições mundial o dever de se fazer um balanço ano a ano sobre os avanços ou recuo da luta pelo fim de toda a descriminação racial.
Fui…