O patético apelo de Grajew
Dias atrás, manuseando recortes de jornal, encontro em artigo na Folha de S. Paulo, essa pérola de acomodamento ao status quo em matéria de legislação eleitoral e partidária: “As elites empresariais só deveriam financiar e apoiar candidatos com ficha limpa. Elas precisam compatibilizar discurso e prática.”
Publicado 19/05/2010 13:09
O autor é Oded Grajew, conhecido empresário, destacado integrante do Movimento Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, incluído entre as personalidades de prestígio nacional de pensamento progressista.
Façamos a exegese da frase: “elites empresariais”, você sabe, quer dizer principais detentores do poder econômico; “financiar” significa custear campanhas eleitorais. “Compatibilizar discurso e prática”, no caso, sugere a existência de grandes detentores do capital efetivamente preocupado com a lisura das eleições e na gestão pública.
Tenho cá minhas desconfianças. Mas acredito nas boas intenções de Grajew. No entanto, chama a atenção a sua postura aparentemente acomodada (ou resignada) diante da necessária e sempre postergada reforma política.
Uma reforma política de cunho realmente democrático e moralizador dos processos eleitorais teria que abolir justamente o financiamento privado de campanhas que Grajew toma como mote do seu artigo.
Na realidade, o texto é uma carta dirigida às elites empresariais brasileiras, isto é, às lideranças compostas pelos dirigentes das maiores empresas e das entidades representativas do setor. Onde o autor afirma que apesar do evidente progresso que o Brasil vem experimentando, ainda são negativos “nossos indicadores sociais, a qualidade de nossos políticos e dos serviços e políticas públicas, o funcionamento do nosso sistema judiciário, os índices de degradação ambiental, a violência na sociedade e a corrupção nas relações sociais, econômicas e políticas”.
Assinala ainda que “nossas elites empresariais são muito poderosas. A maioria dos nossos políticos (e na democracia a maioria decide) são simples representantes das empresas que financiam suas campanhas”. Por isso apela justamente a essas “elites empresariais” para financiem os candidatos bem intencionados (sic).
Do arrazoado de Grajew se depreende a absoluta necessidade de incluir o tema da reforma política – o sistema de lista partidárias e o financiamento público de campanhas – no debate eleitoral que se avizinha. Para que não continuemos a mercê do poder econômico nas eleições.