Novas frentes de luta no campo
Publicado 14/02/2012 18:23
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, em matéria divulgada por Carta Maior em dezembro 2011¹, o número de acampamentos de sem-terra no país caiu quase pela metade entre 2001 e 2010, enquanto o número de famílias envolvidas recuou de 10.311 para 3.579. Também as ocupações de terra diminuíram de algo em torno de 26 mil famílias para 16 mil famílias neste mesmo período.
Diante dos números expostos, há aqueles que sugerem o arrefecimento da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil. Outros insinuam uma possível superação dos conflitos agrários no campo. Uma coisa é certa: a questão agrária (e agrícola) no Brasil ganha novos contornos que exige grande demanda por sua atualização teórica.
É duvidoso afirmar, baseado nestes números, “que as fileiras da reforma agrária perderam força”, mas é fato que a reforma agrária da atualidade apresenta feição bem diferente daquela defendida pelas Ligas Camponesas, por exemplo. Hoje, a dinâmica dos empreendimentos agrícolas modernos, intensivos em capital, é realidade que predomina em milhões de hectares.
Em apenas 20 anos, entre 1960 e 1980, a população urbana passou de 44,7% para 67,7% em relação à população total do país, devido, sobretudo, ao processo de industrialização acelerada que marcou esta época. A dificuldade de mobilizar os sem-terra no atual momento, portanto, extrapola os motivos expostos na matéria, embora o aumento da geração de empregos nesta última década (principalmente na construção civil) e o Bolsa Família sejam fatores importantes.
Por isso mesmo, as formas de luta política do movimento, amiúde, precisam ser ajustadas ou mesmo reformuladas, a fim de se adequar a tática ao momento presente. A própria luta pela reforma agrária reclama superação de certas contradições que se apresentam díspares entre as regiões. Em alguns lugares, no Brasil e no mundo, a luta contra o latifúndio “semicolonial” pode ser mais premente que a supressão do latifúndio “pré-capitalista”. Ou talvez seja o monopólio da terra o aspecto mais importante em outro espaço. O caráter da reforma agrária e as forças sociais interessadas devem ser analisados, também, geográfica e historicamente. As reivindicações dos agricultores do Pontal do Paranapanema apresentam diferenças dos que cultivam o solo do Bico do Papagaio em Tocantins que, por sua vez, são distintas daquelas de décadas atrás, devido, sobretudo, ao salutar avanço técnico-científico no campo.
O reposicionamento do MST, anunciado na reportagem, em priorizar mais os assentados da reforma agrária que propriamente as ocupações, parece levar em conta todo esse mosaico de situações agrárias e o novo quadro político. Afinal, são quase um milhão de famílias de agricultores egressas do programa de reforma agrária que agora vivem o dilema de qual modelo agrícola seguir. E é essa luta, em torno de um novo modelo agrícola, que ganha centralidade no seio do movimento.
Há de se pensar, no entanto, se esse modelo agrícola radical, baseado na agricultura camponesa, livre de transgênicos e insumos químicos, fundado na mão-de-obra familiar é a melhor opção para o país.
Decerto, a bandeira da agricultura orgânica desperta enorme simpatia na sociedade. Essa, aliás, vem sendo a tônica da intervenção no MST há algum tempo, condenando e associando o agronegócio como grande inimigo do meio ambiente e valorizando a agricultura familiar como produtora de alimentos saudáveis (o que não é necessariamente verdadeiro). Através dessa bandeira ambiental, vem ganhando apoio de setores importantes da sociedade, inclusive ONGs internacionais, que a propósito da Rio + 20, encontrarão solo fértil para semearem suas ideias.
Referência:
¹ MST aposta em assentados para reforçar a sua base. Carta Maior. 20 de dezembro de 2011. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19248