Armas para todos

O massacre de crianças em uma escola dos Estados Unidos, semana passada, reabriu o debate sobre o porte de arma e a paz. Inclusive aqui no Brasil, onde há alguns anos tentamos em ampla consulta popular restringir a possibilidade de uso de armas pela população, mas sem sucesso.

É certo que restringir por completo o porte de armas é impossível, a começar pelo fato de que se permite a sua fabricação. É um produto como outro qualquer, como tantas outras porcarias que encontramos nos pontos de comércio. Mas pode-se estabelecer limites.

E aí há grande número de fatores a serem analisados. Afinal, vemos massacres ocorrendo todos os dias nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, por todos os cantos do país. As armas usadas nesses crimes vêm de diversas origens e muitas delas seriam de uso exclusivo das Forças Armadas.

Existe um enorme mercado paralelo, que segue mais ou menos as mesmas rotas do tráfico de drogas. Os caminhos das fronteiras com países vizinhos, os navios e aviões de trânsito internacional. Ou, então, vêm mesmo das casernas militares, de onde são furtadas ou desviadas.

Nesses casos, falamos do crime organizado. Mas as armas que estão nas casas das pessoas, do cidadão comum, formam um arsenal aparentemente pouco letal, mas de grande periculosidade. Aí entra um aspecto fundamental nessa discussão sobre as armas.

A ideia de que ter uma arma em casa, na bolsa ou local de trabalho significa alguma proteção é pura balela. Até porque o ladrão que chega a uma residência, por exemplo, está mais habituado ao uso de arma e sempre procura joias, dinheiro e, é claro, armas. As que estariam ali supostamente para proteção vão parar nas mãos da bandidagem.

Nos Estados Unidos, a arma de fogo é como uma raquete de tênis ou bola de futebol. Atirar é um esporte. Por menor que seja a cidade sempre tem um clube de tiro, como os de caça e pesca aqui do Brasil, que felizmente estão desaparecendo por completo.

Segundo o noticiário internacional, o menino que praticou o massacre da semana passada portava duas pistolas de repetição, um fuzil com pente de 40 balas e uma escopeta. E quem teria comprado esse verdadeiro arsenal foi sua mãe, que ele matou logo de começo, antes de praticar a carnificina toda.

Aqui no Brasil ainda existe também, e com força, essa tradição cultural. É uma afirmação da masculinidade. Para ser macho mesmo precisa saber atirar e ter uma arma. E a mulher, para não ficar para trás, segue a mesma linha.

A grande arma está, pois, na educação. Em casa, nas escolas, igrejas e agremiações de todo tipo, as crianças precisam aprender que a arma de fogo é um instrumento que não deve fazer parte de nossas vidas. Assim como matar alguém é algo errado, antes de ser crime.

É certo que uma pessoa movida por impulsos de ódio, se quiser, mata de qualquer jeito. Um martelo, uma pedra ou uma faca de cozinha vira arma fatal. Mas a arma de fogo por perto é sempre um incentivo.

As desavenças e discussões do cotidiano, em casa ou nas ruas, podem ser resolvidas pelo diálogo. Uma sensação de ódio pode sempre se transformar num gesto de amor, de complacência. Basta querer.

O melhor caminho para a humanidade é, pois, armar todos os viventes, mas com o revólver da paz.

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