Inovação ou Atraso?
A provável indicação do deputado federal Gabriel Chalita (SP) para ocupar, em nome do PMDB, o cargo de ministro no governo Dilma Rousseff preocupa muita gente no PT, de outros partidos da base aliada e dos meios científicos.
Publicado 12/02/2013 11:57
Não é pelo nome em si, que granjeia respeito, mas pelo fato de o Ministério em vista ser o de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). E estão cheios de razões para isso.
A preocupação nem é relativa ao Ministério como um todo, mas com seu compromisso com a inovação, expresso no seu próprio nome. Essa pasta foi criada em 1985, com a sigla MCT. Só em 2011, porém, é que o termo “inovação” foi adicionado ao nome, como forma de deixar bem clara sua ação em favor da pesquisa, em favor do novo.
O que tira o sono de muita gente, contudo, é o engajamento religioso de Chalita, que é de uma ala (mais) conservadora da Igreja Católica, contrária a avanços da ciência em algumas áreas nevrálgicas, como a da Biogenética, por exemplo. Ou seja, algumas inovações não são nada bem-vindas por essa corrente.
Ele, o Chalita, é um dos principais líderes do movimento Canção Nova, cuja sede central fica em Cachoeira Paulista (SP), sua cidade natal, e que se alinha com o que há de mais atrasado no catolicismo. Embora nascido no Brasil, o movimento tem adeptos no mundo todo, a ponto de ser reconhecido pelo Vaticano como “associação internacional de fiéis”.
O líder maior da seita é o padre brasileiro Jonas Abib, que tem o título de monsenhor, concedido pelo Papa exclusivamente a religiosos que já tenham prestado “relevantes serviços” à Igreja Católica. Seria algo como uma patente de arcebispo honorífico.
Chalita tem substanciosa formação acadêmica, com diplomas de doutor em Filosofia do Direito e em Comunicação e Semiótica, ambos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Já publicou perto de 60 livros, sobre temas diversos, mas sempre com um sutil viés do convencimento, da evangelização.
Não é estranho, pois, que o movimento invista pesadamente em comunicação social, possuindo emissoras de rádio e TV, além de veículos impressos e página na internet. São 86 emissoras de TV aberta em todo o país, em rede. E a programação que vai ao ar no Brasil corre o mundo pelos caminhos das nets, em várias línguas.
Haverá, por certo, quem diga que religião é religião, política é política, não se misturam. No entanto, esse com certeza não é o caso. O grosso do robusto eleitorado de Chalita está mesmo entre filiados e simpatizantes do Canção Nova. É gente que vota com fé em ideias carismáticas e cobra posições de seus elegidos.
E é aí que o bicho deve pegar.
O MCTI tem como competência cuidar da política nacional de pesquisa de ciência, tecnologia e inovação “para o desenvolvimento social”. São incluídas aí, por exemplo, as políticas nacionais de biotecnologia e espacial, que tratam da manipulação genética e da exploração do Universo. Vai da pesquisa ao uso de seus resultados.
O Ministério supervisiona as atividades da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E, ainda, de mais 13 órgãos de pesquisa, cinco colegiados (conselhos e comissões), duas autarquias, quatro empresas públicas e uma empresa binacional (com a Ucrânia).
A supervisão significa que cabe ao ministro a palavra final sobre as prioridades de cada uma dessas áreas, com a consequente liberação de recursos financeiros para a implementação das tarefas definidas. Em última instância, são atividades que dependem da canetada do ministro. Chega a dar calafrios em muito cientista.
Enfim, o lançamento do jovem Chalita, de 43 anos, para o cargo de ministro significaria, para o PMDB, alçar um novo nome a um plano nacional. Seria parcela da retribuição ao apoio do partido ao governo Dilma Rousseff. Faz parte do jogo político, digamos.
O problema é a pasta escolhida.