Médicos estrangeiros no Brasil

O Conselho Federal de Medicina (CFM) merece aplausos de todos os brasileiros por reivindicar tão enfaticamente a qualificação e preparo técnico dos médicos. Uma pena que isso só ocorra quando o profissional em questão não faz parte de seus quadros.

Pelo país afora convivemos há décadas com várias faculdades com seus cursos de medicina de duvidosa qualidade em que a regra é conhecida pela sociedade em geral por uma sigla pejorativa: PPP (Papai pagou, passou). São cursos que cobram mensalidades caríssimas, onde o “mérito” maior deixa de ser o acadêmico e passa a ser o financeiro. O CFM jamais se pronunciou com veemência a esse respeito.

Por trás deste discurso em defesa da qualidade técnica do profissional existem várias outras intenções e preconceitos de certos membros desta importante categoria profissional que ao longo dos anos vem se tornando uma das mais elitistas do país. Popularizar essa profissão, sem abrir mão do rigor técnico, se torna cada vez mais urgente.

Urgente também é atender a demanda da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) que solicitou à presidenta Dilma, através de um documento assinado por 4500 prefeituras, a regulamentação da vinda de médicos de fora do país. Os municípios menores, que não têm condição de pagar salários mensais superiores a 15 ou 20 mil reais para cada médico, pedem solução imediata. São apenas sete mil médicos vindos de fora, em universo de aproximadamente 370 mil médicos brasileiros onde a imensa maioria está sediada na região sudeste e sul do país.

Uma solução em curto prazo, já que não podemos esperar por mais de oito anos (prazo médio para a formação de um médico) seria permitir o que já ocorre com todas as outras profissões em nosso país: a atração internacional de mão-de-obra qualificada. Quantos engenheiros estrangeiros trabalham em nosso país, atraídos pelo mercado? Quantos professores estrangeiros lecionam no Brasil, convidados pelas universidades? Quantos esportistas estrangeiros se preparam nas arenas nacionais, competindo com nossos atletas? Tudo isso faz parte de um saudável intercâmbio científico, cultural, profissional e esportivo e não gera a grita dos Conselhos em questão. Pelo contrário, é incentivado pelas grandes nações que sempre apostaram na atração destes profissionais.

No caso da medicina, a proposta do governo é que os médicos estrangeiros venham a trabalhar somente no atendimento básico. Iriam atuar no interior do país onde, “só se estiver louco” um médico brasileiro vai querer trabalhar atendendo pelo SUS, sendo que se pode ganhar muito mais na rede privada sediando-se nos grandes centros, como disse o médico e presidente do Conselho Regional de Medicina do Tocantins, em matéria especial do Valor Econômico do dia 31 de maio.

Claro que no médio e no longo prazo o governo precisa resolver esse problema crônico que aflige a saúde no país e suprir o déficit de 13 mil médicos que é apresentado pelos prefeitos brasileiros. Piora esse quadro quando sabemos que de cada quatro formados, apenas um fica no setor público. Mas de imediato, no curto prazo, mais importante que a valorização do médico brasileiro conforme os critérios do CFM é garantir o atendimento básico aos brasileiros que vivem no interior do país sem a presença destes profissionais. Se a maioria dos médicos trabalha no setor privado, porque então o medo de deixar a lei de mercado prevalecer quando se trata de “importação” de médicos?

Seria bom ver a mesma indignação e revolta do CFM em relação à falta de profissionais da saúde em cidades do interior, principalmente no norte e no nordeste. Seria importante constatar o mesmo empenho do CFM em relação à qualidade do ensino oferecido pelas faculdades de medicina, principalmente nas particulares. Seria desejável perceber que o CFM preza mais a saúde do povo brasileiro que a saúde corporativista de uma categoria que, diga-se de passagem, apesar de algumas distorções, merece todo o reconhecimento e sincera valorização do povo brasileiro.

Enquanto isso não ocorre, melhor o governo ouvir menos a gritaria do CFM e mais o clamor da população e os anseios legítimos dos médicos brasileiros.

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