Marina e o Mosaico

Há um longo e emocionante caminho daqui até as eleições do ano que vem, de modo que muita coisa ainda pode mudar. A ida da ex-senadora Marina Silva para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), comandado pelo governador do Pernambuco, Eduardo Campos, por certo vai mudar a composição do mosaico de 32 partidos políticos que pavimenta a raia da disputa.

A primeira mudança significativa já ocorreu, com o sumiço de um dos possíveis candidatos ao cargo de presidente da República. Mas, se o impacto inicial da aliança Marina-Campos foi de surpresa, muito mais surpreendente será o jogo de peças doravante.

Deve pegar de calças curtas os apressadinhos que já arriscaram prognósticos definitivos sobre quem ganha e quem perde com essa mudança. Isso vale tanto para lideranças políticas como para os analistas da mídia

Começa pelo fato de que o PSB e a Rede Sustentabilidade não são mais os mesmos. O partido antipartidos criado por Marina ganha agora uma definitiva coloração partidária, o que de cara desagrada muitos dos seus correligionários. Afinal, a Rede caiu no emaranhado.

As alianças já seladas pelo PSB de Campos, que incluem coligações com o próprio PSDB de Aécio Neves em pelo menos quatro estados, não cheiram bem à maioria dos redistas. E os ajustes também já feitos com setores mais conservadores da área empresarial, em especial os ruralistas, trombam de frente com o discurso de Marina.

Assim, a ideia de uma nova política, apregoada pela Rede, vai pras cucuias. O PSB tem demonstrado ser um partido da mais antiga linhagem da política brasileira e Campos, seu líder maior, cada vez mais se distancia da legendária figura de seu avô, Miguel Arraes. A proposta socialista que carrega em seu nome vira uma farsa, na prática.

O caminho a ser seguido pela coligação Rede-PSB é repleto de mistérios. Marina não disse em momento algum que abriu mão de sua candidatura, embora não a tenha reafirmado. O fato é que, se mantidos os atuais percentuais de preferência do eleitorado, de Marina com 26% e Campos com 8%, o PSB vai ter que optar por alguma chance de vitória, que se expressa em números.

Para se tornar uma força realmente ameaçadora, capaz de chegar a um possível segundo turno com grande cacife, o PSB terá que montar um discurso único. É certo que a aliança desempenha a principal oposição à Dilma Rousseff, mas, pelo que dizem as pesquisas, bater no governo federal rende, no máximo, seus 30, 35% dos votos. E pronto.

Não há dúvidas de que esse novo quadro do mosaico, já num primeiro turno, parece incomodar algumas lideranças do PT. Em verdade, porém, a situação fica muito mais clara, transparente, e isso favorece Dilma. Mesmo que enfrentando certo melindre nas respostas aos ataques de Marina e Campos, já que ambos foram ministros do ex-presidente Lula.

A criação de novas agremiações também suscita dúvidas. Ninguém sabe ao certo quais as trilhas que irão seguir. Dificilmente elas terão posições unitárias, já que servem de ninho para muito políticos com mandato que buscaram novo abrigo no limite do prazo de filiação partidária. Dos 513 deputados federais, 52 mudaram de partido. Nos estados e municípios, também foi grande a revoada.

Nesse primeiro momento, a conjuntura ficou mais complexa, ou complicada, para o PSDB. A combalida candidatura de Aécio Neves perde de vez o posto de maior opositora e isso poderá fazer diferença até internamente, de modo que o ex-senador José Serra pode tornar-se uma opção mais realista, pois está à frente nas pesquisas.

O partido corre o risco de perder mais terreno, uma vez que a tendência dos que se colocam na oposição é de se alinhar com quem tiver mais chance de vitória, pois não há diferenças ideológicas na mesa. O que os une é a proposta de tentar retirar Dilma do Palácio do Planalto.

No fim das contas, a coligação PSB-Rede acabou apressando ajustes no mosaico partidário que iriam ocorrer de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde. O jogo apenas começou.

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