Seriedade na mobilidade urbana

Quem bem se lembra das cenas, um dia inimagináveis, de agentes da concessionária Supervia tencionando passageiros na estação de Madureira com seus apitos? Como um flashback de períodos ditatoriais no Brasil, lá estavam funcionários agredindo cidadãos que só queriam usufruir o direito de ir e vir – o mesmo que é concedido pelo Estado à empresa sob regime de exigências e obrigações junto ao povo.

E quando os trens descarrilaram durante trajeto em São Cristóvão, na última semana, vimos novamente o caos instalado na cidade. Assim como a mídia e a internet registraram, sem poder seguir viagem, trabalhadores e estudantes jogados à própria sorte foram obrigados a sair dos vagões paralisados desafiando os quilômetros de chão quente e desnivelado dos trilhos da Supervia. Uma cena imoral para o morador do Rio.

A mobilidade urbana fluminense tem se tornado uma pauta crônica e desprezada pelo poder público, e que vem se refletindo cada vez mais na realidade do cidadão. É um setor que carece há anos de fiscalização e regulação com jeito sério de Governo, seja pela própria secretaria estadual de Transportes ou por seu braço específico para isso: a Agetransp. Mas nada disso ocorre com afinco ou seriedade, expondo ao risco e ao stress, de forma concomitante, milhares de usuários. De acordo com a própria companhia foram cerca de 500 falhas só em 2013.

No verão carioca, sofre não só pelo calor quem tenta chegar ao trabalho ou em casa, partindo de um lado a outro na cidade do Rio e particularmente na Região Metropolitana, seja da Baixada Fluminense ou em municípios como São Gonçalo e Niterói. O cidadão sofre exatamente por ter de utilizar serviços e concessões de transporte público que caminham à margem de segurança e austeridade gerencial, dentro de razões a serem apuradas, pois há muito vem sendo denunciadas. O volume de investimento das concessionárias se mostra aquém das necessidades. Basta estar no asfalto do dia-a-dia e não dentro dos gabinetes refrigerados para compreender a realidade de 10 milhões de cidadãos.

Uma forma de fugir do emaranhado arcaico dos trens urbanos é investir em metrô com prioridade para Zona Oeste da capital e Baixada, e a Linha 3 para o outro lado da baía. É importante a expansão de VLT’s (Veículos Leves sobre Trilhos) no processo de desenvolvimento urbano, em substituição ao uso quase exclusivo da malha rodoviária, cada vez mais congestionada com carros e ônibus convencionais. Além disso, garante sua eficiência na defesa ambiental, sem emissão de carbono.

No panorama fluminense, é preciso voltar-se para onde o fluxo e a concentração da massa trabalhadora é maior, buscando manter integrados os diversos modais com preço acessível. E ir além: fazer da fiscalização e regulação uma ferramenta real do Governo, sem maquiagens, promiscuidade e desrespeito com o povo e nosso estado.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor