Habemus Bispo

Há quase três décadas, a Igreja católica no Brasil dava um passo significativo no trato da questão racial entre seus membros. Após pressão do movimento negro que compareceu em massa a uma assembléia da Pastoral Operária, a CNBB viu-se obrigada a adotar em 1988 o slogan "Ouvi o Clamor desse Povo", tema da campanha da fraternidade no ano do centenário da abolição.

Nesses 27 anos, fé, religião e questão racial tornaram-se assuntos cada vez mais cruciais no Brasil. De um lado, a direção católica avançou no respeito às manifestações culturais negras, adotando inclusive missas afros, criando a Pastoral Afro, solidificando em seu meio os APNS – Agentes Pastorais Negros e, deixando eclodir deste movimento lideranças altamente capacitadas como Dom José Maria Pires, Dom Gilio, Padre Antônio Aparecido – o Padre Toninho, Padre José Enes de Jesus, Frei David, e o já falecido e pioneiro no movimento Padre Batista.

Contudo em altos postos de comando, a ausência negra permaneceu quase a mesma de 1960, quando se discutia em seu meio se a igreja católica deveria ou não adotar negros e negros nos seus quadros. Fato é que, dos quase 500 bispos brasileiros apenas dezenove são negros, e entre os cardeais (com possibilidade de se tornar Papa) apenas um é negro, repetindo a velha forma não representativa do racismo tupiniquim.

Recentemente, o Papa Francisco quebrou mais um tabu, nomeando para a cidade de São Paulo o primeiro bispo negro da história, o competentíssimo Dom Eduardo Vieira dos Santos. Do ponto de vista simbólico foi um importante passo pela igualdade racial. A nomeação do primeiro negro na mais disputada e estratégica arquidiocese do Brasil, onde passaram nomes como o de Dom Paulo Evaristo Arns, revela uma especial atenção da cúpula católica a um setor significativo de seu rebanho, que tem migrado para as igrejas evangélicas, inclusive para altos postos de comando. A julgar pela multidão que lotou a Catedral da Sé, no último sábado, em sua maioria de negros, para recepcionar Dom Eduardo, foi mais um golaço do Papa Francisco.

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