Liberdade da crítica

Embora o título do artigo nos remeta a uma polêmica teórica do início do século passado, envolvendo Lenin, Kautsky, Rosa Luxemburgo, Bernstein e a “Social Democracia” da época, este tem objetivo bem mais singelo.

Eu, no início, e durante boa parte, da minha militância, “instruído” pela teoria e um suposto entendimento da dialética, achei que os militantes conscientes, saberiam separar a forma do conteúdo. Mas não vivemos, e nem vivíamos, sob uma redoma, por mais consciência que tenhamos, a forma tem crescente importância na nossa compreensão e vez por outra nos pegamos priorizando ela em detrimento do conteúdo, que é sem dúvidas mais importante.

Pois bem, entendendo assim, fiz muitas críticas duras e sem o “cuidado” devido. Acumulei desafetos e vários prejuízos em forma de “vinganças”. Pensei durante algum tempo que o criticado consciente e até revolucionário, iria perceber que não era pessoal e nem tão pouco personalizado. Afinal ideias tratamos pelo nome e não por apelido.

A grande verdade é que ninguém gosta de receber críticas, mas, quando a hora é de ver e comentar os defeitos dos outros, dificilmente alguém perde a oportunidade de criticar. De qualquer forma, a convivência com as críticas exige uma grande dose de maturidade e equilíbrio. Elas significam um julgamento de valor ou um sentimento subjetivo de acordo com o ponto de vista de quem as faz.
Do lado de quem recebe críticas, as reações também são sempre subjetivas. Há momentos em que são até bem-vindas – a pessoa está mais aberta e as aproveita para se reformular. Em outros, a crítica provoca vergonha, raiva, irritação e depressão.

Há pessoas(poucas) que reagem a ela com o sentimento de "deixa pra lá"; outras, porém, se arrasam. Se o criticado é forte, consciente de seu próprio valor, saberá receber a crítica naturalmente, sem grandes sofrimentos. Pode até se contrariar e rebater, mas não se sentirá derrubado nem agredido. Porém, se a pessoa estiver atravessando uma fase difícil de sua vida ou for alguém inseguro e complexado, a crítica é péssima e vai de fato machucar.

Qualquer militante tem o direito de emitir suas opiniões diante de um comportamento, de uma atitude ou de uma realização do outro. Entretanto, ninguém pode arrasar algo só porque não gostou ou destruir outro(a) só pelo prazer de ver a sua ruína. Nesse sentido, é necessário separar bem as duas formas de crítica: a construtiva, feita por amor, com jeito e habilidade e interesse pelo outro; e a destrutiva, feita com ódio ou rancor, para agredir, derrubar e humilhar. Quem utiliza deste recurso, geralmente, o faz pelas costas, para justamente não dar condições de defesa à vítima.

Há críticas bem feitas na forma, gentis e educadas. Elas nem seriam críticas, mas verdades ditas em momentos de reflexões, balanços e ajustes coletivos. Quem critica bem, critica nos fóruns, reuniões que tenham como pauta ou simplesmente a sós.

Infelizmente, no geral guarda-se a crítica, quando ela é destrutiva, para a chamada avaliação de um período, mandato de duração diversa. Assim, não se ajuda. Pois a crítica construtiva tem que ser feita no momento em que a ação precisa de correção. Do contrário é generalista e sempre destrutiva. Eu observei alguns que opinam com o dedo em riste, que só sabem, sempre, ver o lado ruim do outro e têm sempre uma palavra azeda, venenosa, na ponta da língua. Esses críticos ferrenhos e constantes são, em geral, pessoas negativas, agressivas, complexadas. Elas não criticam para ajudar, mas com arrogância, maldade, vingança e inveja. E, provavelmente, se ocupam muito da vida alheia. Um exame de consciência sobre o assunto não faz mal a ninguém.

Por que não procurar as coisas boas que existem? Por que não ver o lado positivo das pessoas? Não seria mais fácil e gratificante agir dessa forma? Se existem várias formas de criticar, por que não escolher as melhores?

Um texto do velho Stalin trata o assunto de forma consequente (vejam vocês que o “comandante” acusado por não aceitar críticas, foi o que melhor produziu, em minha opinião, um texto que fala sobre): “Às vezes – disse Stalin na década de 30 século passado – censura-se aos críticos a imperfeição de suas críticas, pelo fato de que às vezes a crítica não é cem-por-cento justa. Exige-se, com frequência, que a crítica seja justa em todos os aspectos, e se não é de todo justa começa-se a injuriá-la.

Isso não é justo, camaradas – continua ele -. 'Trata-se de um erro perigoso… Se formos exigir crítica cem-por-cento justa, estaremos assim destruindo a possibilidade de qualquer crítica de baixo, a possibilidade de qualquer autocrítica.”

Depois observa alertando: “Tem havido entre nós casos de perseguição aos que denunciam irregularidades. Esse procedimento escandaloso, incompatível com a permanência no Partido, causa grande mal ao trabalho, sufoca a capacidade de iniciativa e a atividade própria dos indivíduos que ajudam o Partido a lutar contra toda espécie de mal, irregularidades, falhas e deficiências.”

Realmente não é fácil mas se não houver um esforço maior daqueles que dizem ter consciência ficará cada vez mais difícil de exercitar a crítica e auto crítica como método para corrigir-se e ajudar a corrigir os erros coletivos.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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