Em parceria com o Centro de Memória Sindical, o Prosa, Poesia e Arte publica, semanalmente, a seção Música e Trabalho. Nesta semana, Chico Buarque volta a aparecer – desta vez, com a canção Pedro Pedreiro. Confira.
Publicado 14/07/2019 01:19 | Editado 13/12/2019 03:29
Pedro, pedreiro, penseiro, são metáforas da rusticidade, da monotonia, do tédio, da incapacidade de intervir e da dureza do trabalho do operário. Na música a situação um operário da construção civil (pedreiro) é descrita, sobretudo, pela repetição da palavra “esperando”. O pedreiro Pedro representa a condição de vida da classe trabalhadora do povo brasileiro, sobretudo em meados da década de 1960, início da ditadura militar no Brasil.
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande no bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Está esperando um filho
Pra esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro está esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo
Espera alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar
Mas pra que sonhar
Se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também
Esperando a festa
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito do trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem, que já vem, que já vem