O perigo Bolsonaro e a sua chegada ao limite do tolerável

“O real motivo que fez o presidente agir de modo tão irresponsável perpassa pela leitura da última pesquisa, onde ele cresceu ao ponto de ter mais pessoas achando bom que ruim o seu governo, e é exatamente no apoio popular que ele se ampara, pois é isso que o dá confiança para seguir em frente nessa guerra de posições permanente.”

Fevereiro acabou, para alguns o ano começa agora, afinal de contas se encerrou o carnaval. E foi exatamente nesse período que fomos surpreendidos por um compartilhamento, no mínimo imprudente do atual presidente.

De modo totalmente irresponsável (à primeira vista) Bolsonaro compartilhou nas redes sociais o chamado para manifestação contra as casas legislativas federais no próximo dia 15 de março. Além de sem noção alguma, essa ação configura crime, afinal de contas ser o mandatário mor do país não coloca ninguém acima das nossas leis, em especial da Constituição.

Muitos estão menosprezando a ação do ex-deputado, em especial pelas declarações de alguns de seus generais desmentindo o fato, mas na realidade o que estamos assistindo é um verdadeiro teste para cardíacos.

Bolsonaro sabe muito bem o que está fazendo, a economia do país vai mal, o desemprego cresce a cada dia e seu apoio, mesmo velado, à greve das polícias (ou milícias) no Ceará pegou muito, mas muito mal junto à Plutocracia. Para manter sua base de apoio cega, só existe uma forma: criando fatos.

Esses fatos, que já foram declarações do ministro da educação, das relações internacionais ou da família, só para citar alguns, é apenas tática para disfarçar as pautas reais, como a reforma administrativa que vai acabar com o serviço público, para citar só uma.

O real motivo que fez o presidente agir de modo tão irresponsável perpassa pela leitura da última pesquisa, onde ele cresceu ao ponto de ter mais pessoas achando bom que ruim o seu governo, e é exatamente no apoio popular que ele se ampara, pois é isso que o dá confiança para seguir em frente nessa guerra de posições permanente.

Com base nesse raciocínio, é que Bolsonaro apresentou a maior de suas provocações: topou desafiar a democracia na cara e na coragem, ousando chamar um protesto contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Na verdade, esse é só mais um dos seus testes, em resumo: até onde eu posso ir?

Esse sujeito, de bobo não tem nada, seu comportamento que beira a psicopatia é habilmente pensado, ou seja: mantenho minha tropa em riste, testo até onde meus inimigos me deixam ir e sigo firme no meu propósito de destruir o Estado democrático de direito e o Estado nacional brasileiro através de reformas. Manter um clima de guerra também contra o congresso é outro ato coordenado para manter seu exército de fanáticos animados.

É preciso muita humildade para reconhecermos que nunca lidamos com um inimigo desse tipo, o apoio social, midiático, do capital financeiro internacional e da alta tecnologia que controla robôs no mundo todo para mostrar um apoio irrestrito a suas pautas desumanizantes é algo inédito no Brasil, talvez por isso toda a oposição siga perdida.

Nosso debate e nossas pautas estão velhas, não dialogam com a atual sociedade, as igrejas neopentecostais, berço do bolsonarismo dão dignidade aos mais humildes, mantendo acesa a fé de que ele é quem de fato defende o povo contra tudo que aí está, a batalha nas periferias nada mais é que o debate entre seguir a bíblia ou o tráfico, não é muito difícil pensar qual dos dois a maior parte das famílias prefere que seus filhos sigam…

Essa movimentação de Bolsonaro só coloca a nu o que está óbvio: estamos perdidos usando táticas e técnicas dos anos 1980 para um inimigo do século XXI, até quando parte da esquerda vai seguir tentando se enganar com uma arrogância que a faz analisar uma conjuntura que simplesmente não existe?

Estamos acuados e brigando entre nós, até quando esperar? Urge cada vez mais a necessidade de uma frente ampla e heterogênea, só ela será capaz de frear Bolsonaro dos seus passos cada vez mais largos rumo a um governo mais que autoritário, mas ditatorial.

Vamos ficar pagando para ver até quando? Só quem ganhar o centro vai conseguir vencer essa batalha, análises irreais de um mundo imaginário não ajudam, pelo contrário, é exatamente o que a extrema direita quer, manter a esquerda isolada, fora da realidade e perdida.

Por uma frente ampla, geral, heterogênea e irrestrita antes que seja tarde.

Ah, e também um pouco de humildade para parte da esquerda festiva que insiste em enxergar um Brasil que não é real.

Até a próxima.

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