Afinal, malegômeno é o quê?
.
Publicado 27/01/2022 08:32

Fiz meu curso ginasial (como se chamava antigamente) no Colégio Estadual do Atheneu Norte-riograndense, em Natal, no turno da noite.
A turma ia chegando do trabalho e antes de começarem as aulas ficava por ali jogando conversa fora.
Uma brincadeira que fazíamos era desafiar uns aos outros a dizerem o significado de palavras pouco usuais.
“Energúmeno”, por exemplo — termo que hoje calha muito bem para caracterizar o atual presidente da República.
Numa certa medida nós nos inspirávamos no Marquês de Pombal, que se notabilizara por recuperar o uso de palavras que haviam ficado esquecidas, especialmente quando mandou na colônia e impôs a língua portuguesa como idioma único no Brasil.
Tinha um colega, conhecido por Wilson Doido, que era verdadeiro ás no desvendar o sentido das palavras. E sempre tinha uma anedota para complementar a resposta.
Me intrigava tamanha habilidade num balconista de farmácia como ele.
Um dia eu o desafiei com o termo “malegômeno”, que improvisadamente tirei da minha própria caixola.
Pura invenção.
Jamais lera ou ouvira pronunciar aquela palavra.
Wilson Doido sentiu o golpe. Pela primeira vez se viu embatucado: não conhecia a palavra, mas não queria dar o braço a torcer.
Arriscou significados vários, do tipo pessoa maléfica e afins — que rejeitei todos.
Deu a hora da aula sem que a peleja fosse resolvida.
Iniciamos a noite justamente com a aula do professor de português, José Patrocínio, reconhecidamente competente e muito bem informado.
Instado a esclarecer o significado do termo malegômeno, disse desconhecê-lo e se comprometeu a pesquisar em sua coleção particular de dicionários.
Na próxima aula esclareceria.
Mas na próxima aula, na semana seguinte, o professor obviamente comunicou à turma que não havia encontrado nos dicionários a dita palavra.
Feito bumerangue, o desafio caiu em meu próprio colo, pressionado a esclarecer aonde a havia encontrado.
Não me fiz de rogado e aprofundei a invencionice respondendo que a encontrara numa das obras justamente de Sebastião José de Carvalho e Melo, o famoso Marquês de Pombal.
E assim a polêmica foi encerrada sem sequer o professor e os mais atentos alunos perceberem que eu os havia ludibriado, pois o Marquês de Pombal usara palavras em desuso em seus discursos e não exatamente em obras escritas, ele que historicamente é tido como importante estadista português, que se deixou influenciar pelo iluminismo.
Mas não se conhecem livros de sua autoria…