Abstenção no 1º turno tirou 13 milhões de votos em Lula, diz Lavareda

Segundo Antonio Lavareda, a abstenção “é concentrada sobretudo nas camadas de menor escolaridade, que é onde tem o voto de Lula”

A elevada abstenção registrada no primeiro turno das eleições presidenciais prejudicou o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dos 156,4 milhões de brasileiros aptos a votarem em 2 de outubro, 32,7 milhões de eleitores não foram às urnas, conforme o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A taxa de abstenção foi de 20,95% do eleitorado, acima do registrado nas eleições 2018. Somente no Nordeste, principal reduto eleitoral da esquerda, 8,3 milhões de pessoas (19,5% dos eleitores) deixaram de votar

Na opinião do sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, um dos maiores especialistas em pesquisas e disputas eleitorais no Brasil, o ex-presidente foi o candidato mais prejudicado com o chamado “não voto”. A coligação Brasil da Esperança vislumbrava esse risco, mas agora tem uma dimensão mais precisa do que efetivamente ocorreu.

“A votação do Lula foi tragada, boa parte dela, pela abstenção. Lula perdeu no dia da eleição cerca de 13 milhões de votos, sem nenhuma dúvida”, declarou Lavareda ao blog Pulso (O Globo). A abstenção, segundo ele, “é concentrada sobretudo nas camadas de menor escolaridade, que é onde tem o voto de Lula. Sabemos que 45% dos eleitores do Lula têm, no máximo, o fundamental completo”.

Para o especialista, esse fenômeno mudou a disputa, já que foi determinante para garantir um segundo turno entre o petista e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). “O nome da diferença do resultado das pesquisas com o resultado da eleição chama-se abstenção. A explicação para o Lula não ter levado a eleição no primeiro turno também se chama abstenção”, resume.

Lavareda explica que as pesquisas são incapazes de prever variáveis como a abstenção. Por isso, a leitura dos levantamentos deve pressupor que as sondagens eleitorais são diagnósticos estáticos, uma fotografia de momento – e não um prognóstico. “Os votos válidos derivados das pesquisas são apenas ilações, porque a pesquisa não consegue captar a abstenção na sociedade. É importante que não se repita esse erro no segundo turno”, recomenda.

No segundo turno, marcado para 30 de outubro, o número de eleitores absenteístas deve aumentar, especialmente onde a disputa ao governo estadual já foi definida. É o que ocorreu em todas as eleições ao Planalto desde 1989. “Segundo turno, em geral, a abstenção cresce. Em 2018, cresceu perto de 1,5 ponto (percentual) de um turno para outro.” Em contrapartida, com o pleito afunilado em duas candidaturas, a tendência é de queda no número de votos em branco e nulos.

Daí a preocupação da campanha de Lula em promover ações para estimular o eleitor do 13 a votar. Descontando-se os 3,4 milhões de votos nulos (2,82% do total de votos) e 1,9 milhão de votos em branco (1,59%), o primeiro turno terminou com 118 milhões de votos válidos.

Autor