Muito mais do que o pix

Governo enfrenta desafios na comunicação e na conexão com a base social, diante da força digital da extrema direita e das transformações no mundo do trabalho.

Imagem: Imagem: Marciobnws/Shutterstock

Sentindo-se derrotado pela avalanche de fake news a propósito da Receita Federal adotar mecanismo de controle sobre transações com o pix e coibir a sonegação de impostos, o governo recuou. 

Melhor dizendo, perdeu a batalha contra a mentira.

O novo ministro Sidônio Palmeira, que assume com a missão de elevar qualitativamente a comunicação do governo, sustenta que, mesmo aparentemente lenta, a principal arma contra mentira há de ser a verdade. 

Corretíssimo. 

Ocorre que isso implica em avanço competente em três trincheiras de luta: a do gesto político, que o próprio presidente e seus ministros estão desafiados a aprimorar; a comunicação sistêmica e em linguagem compreensível pela maioria da população; a ação consequente nas redes sociais.

Ruim que essas urgências estejam postas no início do terceiro ano do governo, quando deveriam ter sido pressupostos obrigatórios desde o início. 

Muito se diz que a comunicação do governo é analógica, enquanto a extrema direita esbanja força e inescrupulosa “competência” no mundo digital (com apoio escancarado das big techs).

Na verdade, a deficiência não está apenas no governo federal. Compromete a atividade política do conjunto das forças coesionadas na frente ampla governista. 

Vale dizer, subproduto de deficiências clamorosas na apreciação da realidade concreta em toda a sua dimensão — onde pontifica uma correlação de forças sob muitos aspectos adversa.

No bojo desse atraso, digamos político e técnico, há se incluir considerável afastamento dos partidos do campo popular em relação à sua base social. 

Daí o desafio se apresentar como muito além do pix, ou seja, da comunicação digital. 

Pois inclui inapelavelmente um ajuste de formas de luta e de organização e de propaganda na abordagem de uma base social em plena transformação, seja pelas alterações no modo como os trabalhadores são hoje organizados para a produção de bens e serviços, seja pela tremenda exclusão social que alarga de modo espantoso o contingente de trabalhadores informais (estes alvos fáceis dos chamados influenciadores digitais da extrema direita).

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