Interpretando pesquisas de avaliação do governo e projeções para 2026

O que revelam as pesquisas sobre a popularidade do governo atual e como esses dados influenciam as perspectivas para o próximo ciclo eleitoral [i].

Lula | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

As recentes pesquisas divulgadas pelos institutos Quaest e Datafolha têm gerado interpretações diversas, especialmente no campo conservador e na grande mídia. A narrativa predominante sugere que o governo enfrenta uma avaliação negativa sem precedentes, o que, segundo esses setores, inviabilizaria sua continuidade. No entanto, uma análise mais detalhada dos dados revela um cenário mais complexo e, em muitos aspectos, mais estável do que se propaga.

Os dados da Quaest, que abrangem até março de 2025, e da Datafolha, que se estendem até abril, apresentam metodologias distintas, mas convergem em um ponto essencial: a estabilidade na avaliação do governo ao longo do tempo. Por exemplo, a pesquisa Datafolha, que utiliza uma escala de “ótimo”, “regular” e “ruim”, demonstra uma consistência notável nos índices de aprovação. Desde março de 2023, os percentuais de “ótimo e bom” oscilaram dentro da margem de erro, indicando uma linha estável de avaliação.

A pesquisa Quaest, por sua vez, também reflete essa estabilidade, com variações pontuais que não comprometem a tendência geral. Mesmo diante de crises pontuais, como a crise do PIX no início de 2025, os dados mostram que o governo conseguiu recuperar parte de sua aprovação, evidenciada pela redução nos índices de rejeição na pesquisa Datafolha em abril.

Outro ponto relevante é a projeção eleitoral para 2026. Apesar das críticas e do desgaste apontados, os dados indicam que o presidente Lula mantém uma posição de liderança nas intenções de voto. Essa aparente contradição entre a avaliação do governo e a projeção eleitoral merece uma análise cuidadosa, considerando os diferentes fatores que influenciam cada indicador.

Em síntese, as pesquisas não corroboram a narrativa de uma crise irreversível. Pelo contrário, os dados apontam para uma estabilidade significativa na avaliação do governo, tanto em termos de aprovação quanto de desaprovação. Essa estabilidade, aliada à resiliência nas projeções eleitorais, sugere que o cenário político é mais equilibrado do que se tenta apresentar.

Dinâmicas políticas e cenários eleitorais no campo conservador

A ausência de Jair Bolsonaro como candidato em 2026 abre espaço para novas lideranças no campo conservador. Tarcísio de Freitas desponta como o nome mais forte, com 16% das intenções de voto em cenários sem Bolsonaro, seguido por Michele Bolsonaro e Pablo Marçal. Apesar disso, a direita enfrenta dificuldades para consolidar um candidato natural, evidenciado pela dispersão de intenções de voto entre diferentes nomes.

Essa fragmentação no campo conservador reflete contradições internas que têm se manifestado ultimamente, a exemplo dos atos recentes em defesa da anistia, como o cancelamento dos atos regionais para centralizar a mobilização em torno de um único ato no Rio de Janeiro. Esses fatores indicam uma desaceleração na capacidade de mobilização da extrema-direita, o que pode impactar suas estratégias para 2026.

Vale destacar, que as pesquisas espontâneas destacam Lula e Bolsonaro como os principais representantes de seus respectivos campos políticos. Enquanto Lula parte de 20% de menções espontâneas, Bolsonaro aparece com 14%, consolidando-se como o principal nome da direita.

No entanto, a ausência de Bolsonaro como candidato cria um cenário de incerteza, com nomes como Tarcísio de Freitas e Michele Bolsonaro, ficando claro que não existe um sucessor natural da extrema-direita.

Por fim, a análise dos dados revela que, mesmo com a ausência de um candidato natural, o campo conservador ainda possui figuras com potencial de crescimento. Tarcísio, se apresenta como nome mais forte do bolsonarismo, uma vez que é o nome com menos rejeição e mais desconhecido do eleitorado em nível nacional.

Conclusões sobre o cenário político e eleitoral

As pesquisas recentes reforçam um cenário de estabilidade na avaliação do governo, apesar de crises pontuais, como a crise do PIX em 2025, e ataques econômicos que visam enfraquecer sua imagem. Mesmo com esses desafios, os dados mostram que o governo mantém índices consistentes de aprovação e rejeição, com variações dentro da margem de erro. Essa estabilidade é um elemento crucial para entender o contexto político atual.

No campo eleitoral, os dados indicam que, independentemente do candidato da direita, o presidente Lula venceria as eleições. Mesmo em cenários sem Lula e Jair Bolsonaro, a esquerda demonstra força, com Fernando Haddad despontando como um nome competitivo. Haddad, por exemplo, venceria tanto Tarcísio de Freitas quanto Bolsonaro em disputas diretas, evidenciando que a esquerda está bem posicionada para 2026.

Por outro lado, a direita enfrenta dificuldades para consolidar um candidato natural. A fragmentação interna e as disputas entre lideranças, como Tarcísio de Freitas e Michele Bolsonaro, refletem a falta de consenso no campo conservador. Essa divisão pode ser explorada estrategicamente pela esquerda, que deve buscar ampliar sua base de apoio, incluindo setores conservadores que valorizam a democracia.

Não podemos nos acomodar com essas análises, pois representam o cenário atual. É fundamental que os movimentos sociais retomem seu protagonismo, ocupando espaços e fortalecendo suas pautas políticas. A luta política está se intensificando, e a mobilização popular será essencial para consolidar avanços e enfrentar os desafios que se aproximam.

Em síntese, o cenário político atual apresenta três conclusões principais: a estabilidade na avaliação do governo, a força da esquerda mesmo em cenários adversos, e a fragmentação da direita. Esses elementos devem orientar as estratégias políticas para as próximas eleições, garantindo que a democracia e os valores progressistas sejam defendidos e fortalecidos.

No canal do YouTube “A Questão Política”, gravei um vídeo onde aprofundo mais este tema, com mais dados das pesquisas analisadas. Convido a todas e todos a visitarem e ajudarem a divulgar o canal. (https://www.youtube.com/@Aquestaopolitica ).


[i] Os dados aqui analisados foram retirados dos seguintes endereços:

https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/04/05/datafolha-lula-tarcisio-segundo-turno-2026.ghtml

https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/04/06/datafolha-67percent-dizem-que-bolsonaro-deveria-abrir-mao-de-candidatura.ghtml

https://oglobo.globo.com/blogs/pulso/post/2025/04/pesquisa-genialquaest-desaprovacao-ao-governo-lula-dispara-sete-pontos-chega-a-56percent-e-descola-da-aprovacao.ghtml

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