No São João não sou ex

Mesmo com alergia à fumaça e pouco talento para a dança, ele resiste ao tempo e às modernidades: no São João, continua forrozeiro de alma e coração.

Foto: Adobe Stock/reprodução/Sebrae

Encontro casualmente o amigo que não vejo há anos:
 
— E aí doutor Luciano, pronto para dançar muito forró hoje.
— Nada…
— Então é um ex-forrozeiro?
 
Na verdade, a essa altura do campeonato, a idade avançada, sou ex muita coisa — artesão, médico, deputado, vereador, vice-prefeito, presidente do PCdoB —, mas ex-forrozeiro, não.
 
Creio que por duas razões, digamos, viscerais. Não sou dado a dançar e sofro com incômoda alergia à fumaça das fogueiras. Durante toda a festa lacrimejo e espirro, continuamente.
 
O fato que estarei no animadíssimo forró familiar, disciplinadamente.
 
Só isso.

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No máximo tomarei umas boas lapadas de cachaça ou uísque e farei fotos da festança.
 
E confesso que se me jogasse pra valer na festa deixaria de lado essas quadrilhas estilizadas, hoje lamentavelmente majoritárias em toda parte. 
 
A quadrilha típica, tradicional, cede espaço para essa que parece muito influenciada pelo country norte-americano — e que em nada combina com pamonha, canjica, bolo de milho, pé de moleque e quejandos.
 
Prefiro cantarolar (lembrando a voz de Silvio Caldas) “é noite de São João/o meu balão vou soltar/balão que fiz com as cartas/daquela que não me quis amar…”

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