“Selic a 15% é inadmissível em economia estável”, diz ministro da Agricultura

Carlos Fávaro denuncia que taxas elevadas inviabilizam crédito rural e ameaçam o controle da inflação, apesar do recorde de R$ 516 bilhões no Plano Safra 2025/2026. Produtores temem impacto nos preços dos alimentos

Brasília (DF) 03/07/2025 O Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participa do programa Bom Dia, Ministro Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Ao comentar o lançamento do Plano Safra 2025/2026 , com recursos de R$ 516 bilhões — o maior da história —, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, criticou duramente a taxa básica de juros (Selic) de 15%, considerando-a “desproporcional” ao cenário econômico brasileiro. “A inflação está controlada, o PIB cresce há três anos seguidos e o déficit fiscal é reduzido. Não há justificativa para juros tão altos”, afirmou durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (3), durante o Bom Dia, Ministro.

Fávaro destacou que a disparidade entre a Selic e as taxas de juros subsidiados do Plano Safra prejudica especialmente pequenos e médios produtores. “Um produtor médio paga 10% ao ano no Pronamp, mas no mercado livre, os juros chegam a 20%. Isso é um obstáculo para a produção e a geração de renda”, ressaltou.

Impacto no campo: Crédito caro e risco de aumento nos preços dos alimentos

A crítica do ministro surge em meio a preocupações do setor agrícola sobre o acesso ao crédito. Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho (ProSoja) alertam que os juros elevados podem inviabilizar financiamentos para custeio e investimento, especialmente em regiões dependentes de safras, como Mato Grosso e Paraná.

Produtores do Tocantins e do Rio Grande do Sul destacaram ainda a dificuldade em obter recursos para recuperação de solos degradados e armazenagem. “Com juros altos, muitos vão desistir de produzir. O risco é uma redução na oferta de alimentos e aumento nos preços”, advertiu Tássio Antônio Cavalcante, representante de produtores do Bico do Papagaio.

Plano Safra recorde tenta mitigar efeitos da Selic, mas críticas persistem

Apesar do volume recorde de recursos, o Plano Safra enfrenta críticas por supostas distorções no lastreamento de financiamentos. A ProSoja questionou a alocação de R$ 185 bilhões via CPRs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), afirmando que o modelo reduz a disponibilidade de crédito barato. “O Plano Safra não é 17% menor, mas há uma realidade prática: o dinheiro não chega ao produtor”, argumentou a entidade.

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Fávaro rebateu as críticas, destacando que o governo ampliou em 22% os recursos equalizados pelo Tesouro, priorizando linhas como o Pronamp (para médios produtores) e o Caminho Verde Brasil (para recuperação de áreas degradadas). “Fizemos um esforço gigante para manter o crédito acessível, mas a Selic é um gargalo”, afirmou.

Desafio regional: Distribuição de recursos e sustentabilidade

Outro ponto de tensão é a desigualdade regional na distribuição dos recursos. Os representantes do Tocantins e da Bahia cobraram maior atenção às demandas do Norte e Nordeste, historicamente menos beneficiados por políticas agrícolas. “Precisamos remanejar recursos para atender todas as regiões. A agricultura familiar, por exemplo, agora tem R$ 89 bilhões com juros mais baixos, mas isso precisa ser ampliado”, defendeu Fávaro.

O ministro também enfatizou iniciativas sustentáveis, como o Agroinvest Brasil (R$ 1,5 bilhão para tecnologias de baixo carbono) e o Caminho Verde (R$ 7 bilhões para recuperação de solos). “Investir em sustentabilidade é garantir produtividade a longo prazo”, disse, enquanto defendia mudanças na legislação para aprimorar o seguro rural.

Crítica à política monetária e apelo ao Banco Central

Fávaro reiterou que a alta taxa básica de juros prejudicou não apenas o agronegócio, mas a economia como um todo. “O Brasil virou um país de rentistas. Com a poupança rural remunerando 6% ao ano, os recursos migram para aplicações mais seguras, deixando o campo sem fundos”, alertou. Ele defendeu uma revisão urgente da política monetária para estimular o crédito produtivo.

A crítica ecoa em setores da economia, mas o Banco Central mantém a Selic elevada sob o argumento de preservação da estabilidade. Para o ministro, porém, “é hora de priorizar o crescimento”. “Um país que produz alimentos não pode ter juros que sufocam a produção”, concluiu.

O Plano Safra 2025/2026 representa uma aposta do governo em manter o Brasil como potência agrícola, mesmo diante de recordes de juros. No entanto, a tensão entre a política monetária e as exigências do setor produtivo coloca o Ministério da Agricultura em rota de confronto com o Banco Central.

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