Lances de um confronto que esquenta

Críticas à mídia e ao Congresso se intensificam com a resposta firme de Lula a Trump e o avanço do debate sobre taxar super-ricos e retaliações comerciais.

Foto: Agência Câmara

Impressiona como a grande mídia dominante cuida de defender o Congresso Nacional do que chama “ataques da esquerda com a conivência do presidente da República”. E também como se incomoda com os termos firmes e claros da resposta de Lula a Trump.

Impressiona, mas não surpreende. Na prática, a corrente de opinião mais bem estruturada, poderosa e influente do país é exatamente a verbalizada pelo complexo midiático através de múltiplos meios de comunicação e de um discurso essencialmente único. 

A mídia age como partido político e pauta o parlamento e em certa medida o próprio governo e o judiciário.

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Critica a maioria parlamentar fisiológica de centro-direita e direita apenas quando lhe é conveniente e o faz com traços moralistas bem distantes da essência política do papel nocivo que deputados e senadores, agarrados a privilégios, exercem.

Óbvio que o absurdo controle de parcela expressiva do orçamento pelo parlamento mediante emendas discricionárias é tanto um anomalia constitucional como um absurdo ético, tamanho o leque de irregularidades frequentemente vindas à tona na destinação e execução orçamentária de tais emendas. 

Tão absurdo quanto, ou até mais, é o dique de contenção estabelecido para, na prática, impedir que o governo execute a plataforma de reconstrução nacional com a qual foi eleito o presidente da República. 

Onde e como a mídia defende agora o parlamento? Acusando de “exageradas” as críticas que surgem sobretudo pelas redes sociais, tendo como fio condutor a negativa em taxar os super-ricos sob falacioso argumento de que se trataria de mais uma manifestação da “sanha tributária” do governo. 

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A esquerda, com a cumplicidade do presidente, estaria “introduzindo” no debate político a divisão dos brasileiros entre pobres e super ricos, como se este não fosse um dado de realidade.

E agora, com a ampla difusão da firme resposta do presidente Lula a taxação em de 50% a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, justificada pelo próprio Trump como em razão das resoluções da cúpula do BRICS, recém-realizada no Rio de Janeiro, e ao que falaciosamente chama de “perseguição” ao ex-presidente Bolsonaro.

O fato concreto é que a campanha popular que cresce a cada instante e tende também a ganhar as ruas e o próprio tom ofensivo recém adotado pelo presidente Lula fazem seus efeitos.

Diante da decisão de Trump, Lula convocou uma reunião de emergência com sua equipe de ministros.

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Nas redes sociais, o presidente reagiu com firmeza: “O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.

Lula também disse que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, vigente desde abril, que autoriza o governo a retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros.

Pesquisa Quaest anota que em torno da polêmica do IOF 61% das críticas nas redes foram direcionadas ao parlamento — com impacto tão significativo, acrescente-se, que os presidentes das duas Casas legislativas mostraram em público que sentiram o golpe. 

Por enquanto ainda um confronto intermitente, que tende a crescer na medida em que não apenas segmentos da sociedade espontaneamente se pronunciem, mas igualmente partidos políticos de feição popular integrantes da coalizão governista.

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