1º encontro Nacional de Hip-Hop é a Torre de Babel

Porto Alegre foi palco do 1º Encontro Nacional de hip-hop que aconteceu durante o 3º Fórum Social Mundial. O projeto inicial visava construir um fórum paralelo ao Fórum Social Mundial, como o Fórum de Educação, mas a discussão ficou concentrada entre os dias 27 e 28 de janeiro.

Este encontro contou com a presença de representantes de 15 estados nacionais, além de membros dos Black Panters da cidade de São Francisco, EUA. As maiores delegações foram as de São Paulo e Rio Grande do Sul, hospedeiro.

A abertura contou com uma inédita e emocionante homenagem ao Sabotage e um outro mano chamado Bocão, com o tradicional minuto de silêncio, que transformou-se em um minuto de beat box (imitar instrumentos com a boca e com o corpo).

Malu Viana, da Comissão de Organização do evento, apresenta seu ponto de vista: "O encontro nacional de hip-hop serviu para conhecermos as pessoas que fazem o movimento, mas acredito que só deveria haver 20 delegados por estado num encontro fechado. Nem observadores, nem fotógrafos deveriam entrar, isso atrapalha. Até o ator Denis Glover quis participar" leia mais.

As discussões foram sobre temas como o papel social que tem o hip-hop e a produção cultural.

"Não desejamos um encontro que termine em si. Minha expectativa é de que se construa um novo encontro nacional em um outro estado, e que se discuta mais a fundo questões que não foram aprofundadas, como a questão de gênero e hip-hop contra a Alca, entre outros pontos que ficaram superficiais devido ao tempo", afirmou Mara, da Comissão Paulista do Fórum.

Paulo Shetara, locutor da rádio paulista "105 fm" e autor do livro "A nação hip-hop" comenta: "O fórum foi positivo para fazermos intercâmbio entre a galera. Encontrei vários amigos e fiz novos. Agora, politicamente as intervenções foram fracas e contraditórias. Com pessoas que não são do hip-hop, mas de outros movimentos como o movimento negro, sindical e feminista, estão infiltradas com tarefas políticas querendo doutrinar o movimento. Não dá pra ter grupos que criticam as rádios comerciais e mandam o cd para lá, nem defenderem a autogestão e atacarem iniciativas de autogestão como a 4p."

O segundo dia se iniciou com uma dinâmica de Robson Luis, do grupo UAFRO, que esclarece:

"Minha preocupação e minha participação é com o intuito de levar outras dinâmicas que ajudem o hip-hop a se organizar. Não dá pra usarmos no encontro uma linguagem de parlamento porque até no parlamento depois de 20 minutos tem gente dormindo. Mas o encontro atingiu o primeiro objetivo, passou pela primeira fase de articulação, nacional e a segunda será em Goiânia entre agosto e setembro próximo. O encontro serviu também para mostrarmos onde somos fracos e onde somos fortes. E somos fracos nas formas excludentes de nos organizarmos."

O articulista do portal Vivafavela Def Yuri em seu artigo pede: "O norte desses encontros tem — e deve — ser encontrado rapidamente, senão a empolgação e a aglutinação podem se perder. Os passos têm que ser dados e a articulação tem que aumentar ainda mais. Se não tivermos movimentação, o excesso de "conversa" não adiantará de nada… Nós não devemos nos iludir com redes normativas, disciplinares ou policialescas que só servem para monitorar e conduzir o comportamento alheio, não podemos ser uma cópia de exemplos arcaicos, ineficazes e em alguns casos até medíocres. Devo lembrar que a consciência não se ganha — se conquista. E isso ocorre através da informação."

A Torre de Babel

O encontro nacional de hip-hop é semelhante à história da Torre de Babel, onde iniciaram-se as diversas línguas e os desentendimentos da humanidade. No Encontro também parece que cada um fala sua própria língua e tem seus próprios interesses, ou melhor, interesses partidários.

A participação dos partidos políticos e ONG's são importantes, para ajudar o hip-hop. E não estou falando do aproveitamento estrutural do partido, como fax, telefone, dinheiro, mas sim da contribuição organizacional e ideológica que os partidos políticos e entidades podem oferecer.

Agora, o que está acontecendo é que o hip-hop, ou melhor este "Fórum", está sendo usado por entidades e partidos que não possuem trabalho de base nas periferias, para tentar se estruturarem. Sem a base não dá pra continuar construindo essa torre, falta alicerce, colunas, estacas, vigas, sapatas, ferro e concreto debaixo da terra — mas, como é um trabalho que não aparece, poucos querem fazer.

Todos parecem preferir colocar o tijolo mais alto no topo da torre. Com o cabelo ao vento, sem lenço, sem documento…

Enquanto isso, a nação hip-hop, nas periferias — aqueles que não tiveram como viajar para Porto Alegre e nem poderão ir à Goiânia no meio do ano — apenas vê no horizonte o monumento sendo erguido e comenta: "Tá vendo aquela torre seu moço? Eu ajudei a levantar. Hoje nem sei pra que serve, me contento apenas em olhar."

Como participei da etapa paulista e do Encontro Nacional de hip-hop transfiro para eles "a parte que me cabe deste latifúndio". E a forma de contribuir com este "Fórum" é divulgando-o e colocando minha mais sincera opinião.

De que os desastres arquitetônicos não param por aí. Há aqueles que usam toda sua força para inclinar a torre para a esquerda, querendo estereotipar a forma de se vestir, pensar, andar, comer, ouvir o hip-hop. As frases do tipo: "O rapper não deve usar nike", que ouvi durante o encontro trazem em minha memória posturas dos instintos anarco-punks e suas campanhas de "Boicote ao Mc'Donalds".

Temas como "Hip-Hop e a base de Alcântara" demonstram que o encontro pretende ser uma extensão partidária. Não dá pra discutir base de Alcântara antes de um trabalho de base.

Não dá pra construir nada sem a "massa".

E, por fim, devemos lembrar que mesmo que conseguíssemos finalizar esta torre, há ainda outras peças, como o Cavalo a Dama e o Rei.

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