A burguesia colocou o mundo em perigo!

A Organização das Nações Unidas (ONU) culpa o homem pelo aquecimento global e prevê um cenário de catástrofe ambiental. Na semana passada, divulgou o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas constatando: ''Concentrações de dióxido de

A situação é grave. Até o fim deste século, a temperatura da Terra pode subir de 1,8ºC – na melhor das hipóteses – até 4ºC. O derretimento das camadas polares deve fazer com que os oceanos se elevem entre 18 cm e 58 cm até 2100 e tufões e secas devem se tornar mais intensos. O relatório não esconde as causas naturais: “Os aumentos globais na concentração de dióxido de carbono se devem, sobretudo, ao uso de combustíveis fósseis e mudanças no manejo da terra, enquanto o aumento de metano e óxido nitroso se deve primordialmente à agricultura.'' Já as responsabilidades sociais ficam diluídas pela “responsabilidade humana”. Os cientistas reunidos pela ONU indicaram que há 90% de chance de o aquecimento global observado nos últimos 50 anos ter sido causado pela “atividade humana”.


 



Na primeira metade do século XIX, analisando a situação dos trabalhadores na Inglaterra, Friedrich Engels – um dos fundadores do socialismo científico – apontou como, ao ver as epidemias causadas pelas condições insalubres a que condenava os proletários, o burguês compreendeu “a necessidade urgente de sanear as suas cidades, se não quer ser, ele próprio e sua família, vítima desses flagelos”. Com sua análise classista – mesmo antes de elaborar, com Karl Marx, o materialismo histórico e dialético, Engels já acusava que não era uma “humanidade” abstrata a responsável pelas mazelas causadas no meio-ambiente, mas a classe exploradora. E condenava como inócuas as fórmulas puramente sentimentais e apelos genéricos, que não levavam em conta os reais causadores dos problemas.


 


O homem “puro”, o homem “abstrato”, o “Homem” é um ser natural, que consome, expele e reproduz como toda qualquer espécie viva. Mas ao abordar não a vida no Éden, mas no século XXI, há que se ter por premissa os indivíduos reais, “a sua ação e as suas condições materiais de existência, quer se trate daquelas que encontrou já elaboradas quando do seu aparecimento, quer das que ele próprio criou”, como escreveu o próprio Engels, com Marx, em “A ideologia alemã”.


 


Não deixa de ser um alerta importante apagar por uns instantes a iluminação da Torre Eiffel ou o Coliseu para registrar o descontentamento com a agressão ao meio ambiente, chocar as pessoas visando levar “os governos a agirem com mais seriedade'', como disse o presidente do Painel da ONU, Rajendra Pachauri. Mas os que vêem o processo da vida real, os que entendem a sociedade dividida em classes que se antagonizam, os que percebem a necessidade de mudanças revolucionárias na sociedade, não param nos apelos genéricos. Pelo contrário, registram o que há por trás, por exemplo, da recusa dos Estados Unidos em assinar o Protocolo de Kyoto, que indica metas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Apontam para a necessidade de construir uma nova sociedade, com novas bases, que respeite o meio-ambiente, atue com sabedoria para sua transformação, e propicie o desenvolvimento geral dos homens e mulheres, pois, para viver, é necessário antes de mais beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se etc. … Em qualquer concepção histórica, é primeiro necessário observar este fato fundamental em toda a sua importância e extensão e colocá-lo no lugar que lhe compete.


 


O texto integral do quarto relatório ''Mudanças Climáticas 2007'', da ONU, totalizará cerca de 900 páginas e será divulgado por partes até novembro deste ano. Ainda serão divulgados estudos sobre o impacto das mudanças climáticas e sobre as formas de controle das emissões de gases de efeito estufa. Estes estudos devem embasar as análises dos que pretendem uma nova sociedade e servir como auto de acusação contra a burguesia e seu sistema capitalista, inimigo da vida e do planeta.

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