A Busca da Beleza Ideal

Mas afinal, o que é beleza? Pressupondo que um conceito de tamanha subjetividade não deveria ser medido ou calculado, como justificar os procedimentos a que mulheres (e homens) de todas as idades e cada vez de mais classes sociais se submetem para enquadrarem-se nos rígidos padrões impostos pela modernidade?

Não saberia dizer ao certo desde quando esta obsessão pela perfeição surgiu. Lembro de já ter lido sobre espartilhos tão apertados que provocavam desmaios, faixas apertando os pés para estes não crescerem, argolas para alongar o pescoço, moças que comiam pouco ou nada na frente dos pretendentes para demonstrar delicadeza. Bárbaros costumes? Tanto quanto a retirada cirúrgica de costelas para moldar a cintura, ou de molares e pré-molares para afinar o rosto.

A neurótica busca da perfeição estética encontrou um campo fértil na pós-modernidade. Se tudo o que produzimos tem prazo de validade reduzido, porque conosco seria diferente? Para sobreviver nesta sociedade de ninfas, não bastam os valores culturais e intelectuais. Não por acaso, o aumento de cirurgias plásticas foi de 300% nos últimos nove anos. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cirurgias que entes só eram feitas em pacientes a partir de 50 anos, agora são solicitadas já a partir dos 18. Correção de nariz, queixo, implante de silicone nos seios ou nádegas, sem falar na campeã absoluta, a lipoaspiração. (1)

A busca de beleza ideal cria seus monstros-filhos e os deixa pelo caminho. A anorexia, uma vez que pessoas belas são magras. Quebrando alguns mitos, anorexia não atinge só mulheres, de classe média ou classe média alta. Atinge pessoas de todas asclasses, 80% mulheres, principalmente adolescentes. Até 25% dos anoréxicos podem morrer. Bulimia, que pode ocorrer junto com a anorexia, e acontece em todas as idades. A vigorexia, que é a prática exagerada por exercícios físicos, ocorre mais com homens, em quaisquer idades. Dietas milagrosas, que terminam por conduzir o organismo à subnutrição são comuns em todas as idades e classes sociais.

A diferença entre o saudável cuidado com o corpo e a neurose com o cuidado com o corpo pode ser notado no tempo e nos recursos gastos, e com a dimensão dada a determinados fatores. Em casos mais graves, a busca pela beleza transforma-se em doença, chamada síndrome dismórfica corporal, quando a pessoa passa a ter uma visão distorcida sobre si mesma enxergando seu corpo completamente diferente do que ele é.

O ideal de beleza perseguido, porem, não traz como efeito colateral a resolução dos problemas de auto-estima, de segurança. Este ideal nem ao menos pode ser alcançado, já que pode mudar a qualquer momento, com a mesma velocidade que mudam as cores da moda de cada estação. Não faz muito que a moda era ter seios mínimos; hoje a moda os quer fartos. Marilyn Monroe e Sofia Loren, hoje não fariam sucesso. Nem Twwigy. E o que dizer dos rostos de Barbie, todos parecidos? Mesmo com os procedimentos menos invasivos, as chamadas caras de boneca são indisfarçáveis, todas parecidas, nunca se sabe se estão tristes ou alegres. E já foram piores.

Claro que cuidados com o corpo são bons e necessários. Cremes, tintas para o cabelo, perfumes, óleos, esmaltes, são necessários, fazem bem para qualquer auto-estima feminina ou masculina, e fazem parte da rotina de milhares de pessoas no mundo todo, que não fazem disto uma doença. Por que o problema não está nem no creme nem na cirurgia plástica, mas sim em quem faz da beleza física a meta de vida, o fim em si da vida, que passa tanto tempo em busca desta beleza por fim nem vê a vida passar.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), das 616.287 mil intervenções realizadas no ano de 2004, 365.698 mil (59%) foram estéticas e 250.589 (41%) reparadoras. A grande procura ainda é a lipoaspiração que lidera o ranking com 54% da preferência principalmente entre as mulheres que, no mesmo ano somaram 425.288 mil (69%) – contra 190.999 mil homens (31%) – interessados em cirurgia plástica.

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