A Ciência e o crime

As autoridades policiais descobriram uma tinta que mancha as notas de Reais quando um caixa eletrônico é explodido por ladrões deste ramo do crime. Mas, dias atrás vem a polícia dizer que os bandidos já descobriram um tira-manchas eficaz contra a marcação do dinheiro.

O jogo, no caso, está empatado, portanto. Mas há por detrás disso todo um caminho percorrido por ambos os lados, no desenvolvimento de novas tecnologias, com muita pesquisa, o que adentra o campo da ciência.

Causa certa inquietude essa relação da ciência com o crime, mas não há novidade nenhuma nisso, desde muito antes da invenção da pólvora. O próprio fabrico de novas drogas entorpecentes, por exemplo, é demonstrativo dessa relação perversa. Mas o tema é muito mais extenso do que se pode imaginar.

Não precisamos ir muito longe para isso. As bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagazaki, no Japão, no final da Segunda Guerra, é um exemplo clássico de um genocídio programado, um crime premeditado.

Nem vem ao caso o fato de que, naquelas alturas, o Japão já era um derrotado na guerra, e nem careceria de mais nenhuma ação daquele porte para se pôr fim à contenda. E mesmo que precisasse, não seria essa a arma a ser empregada. Mas era preciso fazer um teste na prática…

No campo da ciência, foi um baque fenomenal. Muitos físicos nucleares, que pesquisavam o manejo do átomo para geração de energia, e alguns que foram cooptados para um programa bélico, muitos sem saber, entraram em pânico. Houve, como se sabe, muitos casos de suicídios entre os profissionais dessa área.

O “agente laranja”, um combinado químico lançado pelos Estados Unidos no Vietnã, na guerra invasora de meio século atrás, como se fosse um pulverizador de lavouras, matou milhares e milhares de pessoas. Mas, o pior: na quarta geração de vietnamitas após essa carnificina, ainda nascem crianças com sequelas daquele pó químico.

Os efeitos de novos produtos lançados sobre populações do Iraque, Afganistão e agora também na Líbia e outras partes do mundo, ninguém conhece direito. Que matam, é certo. Mas quantos ainda irão matar, silenciosamente, não se sabe.

Num campo menos aparente, nos serviços secretos de muitos países – a começar, de novo, pelos Estados Unidos – não são poucos os relatos do uso de requintados projetos científico-tecnológicos para todo tipo de crime, inclusive o de matar pessoas.

Não é de se surpreender, portanto, que no pequeno crime, esse do nosso dia-a-dia, também esteja presente a ciência. No mais das vezes, para o bem. Muitos crimes são desvendados hoje em dia com auxílio de técnicas desenvolvidas em laboratórios de universidades e centros de pesquisa.

A polícia técnica consegue pegar rastros de assassinos, ladrões e até de burocratas corruptos em minúcias que não poderíamos imaginar algumas décadas atrás. E disso, convenhamos, o mundo ainda precisa.

Mas, há o outro lado da moeda, pois se a investigação criminal avança nesse campo, também os criminosos prosperam. Há muita gente com sólida formação acadêmica, em universidades públicas (paga pelo povo, portanto), que se dedica ao crime. São nuances do caráter humano.

Os cientistas da polícia ainda não sabem quem inventou o tira-manchas das notas de dinheiro marcadas nas explosões de caixas-eletrônicos. Mais uns dias, e por certo saberão. O difícil é saber quem, no lado do crime, está em laboratórios pesquisando formas de sacanear o cidadão comum.

De todo modo, por enquanto, o dinheiro que foi manchado pode estar, limpinho, nas mãos de qualquer um de nós.

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