A classe trabalhadora frente ao imperialismo (1)

Como podemos definir o imperialismo?
Creio que, de acordo com as concepções formuladas pelo líder da revolução russa, V. I. Lênin, podemos definir o imperialismo como:

– Um sistema de relações sociais entre as nações, estabelecido em âmbito internacional (nos planos econômico, político, militar e ideológico), cujo fundamento é a exploração dos povos e nações mais pobres e atrasados pelas potências capitalistas, imposta através de normas comerciais e financeiras, quando não por meio do poder militar, como se vê, hoje, no Iraque e Afeganistão;


 


– Uma fase particular do capitalismo, que amadureceu no alvorecer do século 20 e sobrevive até os nossos dias;


 


– O resultado histórico concreto e necessário do processo de acumulação, expansão, concentração e centralização do capital, que extrapolou as fronteiras nacionais, resultando na formação das grandes empresas e evoluiundo para as modernas transnacionais.


 


Capitalismo globalizado


 


O imperialismo é a expansão do capitalismo desde os centros mais desenvolvidos (Europa, EUA e Japão) para a periferia na Ásia, América Latina e África, num processo praticamente concluído durante o século passado. É o capitalismo internacionalizado ou globalizado.


 


É importante sublinhar que a expansão imperialista do capital, que não raro implica em anexações e guerras, ocorre principalmente através da exportação de capitais.


 


Capitalismo monopolista


 


O imperialismo significou a superação do capitalismo concorrencial pelo capitalismo monopolista, a substituição de um capitalismo dominado por pequenas e médias empresas por um capitalismo liderado por grandes empresas. Todavia, o imperialismo não aboliu as fronteiras nacionais, não acabou com a concorrência entre os monopólios e acirrou as contradições entre as potências pela conquista de mercados e partilha de áreas de influência nos países submetidos ao seu domínio. O imperialismo não é a expressão apenas de uma orientação política e não se transformou em “império” ou em ultra-imperialismo, como imaginaram alguns analistas.  


 


Como um produto final da expansão do capitalismo, o imperialismo significa a progressiva abolição de fronteiras à exploração da força de trabalho pelo capital e à expansão da empresa capitalista. Ao se expandir, o capital não só ampliou o universo físico ou territorial da exploração do trabalho pelo capital. Também elevou a taxa de exploração da força de trabalho (ou a taxa de mais-valia), visto que o valor dos salários pagos na periferia do sistema é bem inferior ao praticado nos centros, fenômeno que não se explica apenas pelo diferencial de produtividade entre as nações.


 


Nações e classes


 


Podemos verificar, por conseqüência, que existe uma identidade entre a exploração imperialista das nações e a exploração da classe trabalhadora pelos capitalistas. Em essência, a exploração imperialista, estabelecida pelos monopólios e pelos Estados imperialistas, é a exploração capitalista ampliada à escala mundial.


 


Isto não significa que a classe trabalhadora seja a única classe afetada pelo imperialismo, cujos efeitos oprimem um conjunto bem mais amplo da sociedade, incluindo parcelas expressivas das classes dominantes. Mas, certamente indica que a classe trabalhadora é a principal força interessada na luta conta a espoliação imperialista.


 


Conduta classista


 


A teoria e a experiência históricas indicam que o comportamento das classes sociais frente ao imperialismo não é homogêneo. Em geral, nos países mais pobres, a classe trabalhadora do campo e da cidade manifesta uma oposição mais resoluta e radical frente ao imperialismo, ao passo que os capitalistas de um modo geral tendem à conciliação de interesses, aos acordos e à capitulação.


 


Na América Latina esta diferença de comportamento político transparece claramente no posicionamento das classes sociais frente ao neoliberalismo. O neoliberalismo é uma política concebida para satisfazer os interesses do capital financeiro internacional, embalada numa ideologia falsa, que teve e em geral tem duas conseqüências principais: amplia a espoliação das nações mais pobres pelas potências capitalistas e eleva ou busca elevar a taxa de exploração da força de trabalho pelos capitalistas em todo o mundo, inclusive na Europa, nos Estados Unidos e no Japão.


 


Índios e camponeses


 


Em aliança com governos locais reacionários, o imperialismo praticou e pratica em larga medida a opressão étnica dos povos indígenas e se vale de todo tipo de discriminação para obter vantagens e submeter as nações mais pobres. Cumpre também realçar a espoliação dos camponeses.


 


Quem atua no movimento sindical conhece bem o caráter reacionário e o alcance da ofensiva do capital contra o trabalho embutida nas políticas neoliberais. Por esta razão, entre outras, o comportamento da classe trabalhadora, dos povos indígenas e do campesinato em relação ao neoliberalismo na América Latina (das organizações sociais associadas aos interesses do trabalho) foi de combate e crescente resistência, apesar das divergências e da ação da direita neoliberal nos chamados movimentos sociais.


 


Associação de interesses


 


A conduta das burguesias nacionais não foi a mesma. O imperialismo exerce seu domínio em parceria com forças locais. As burguesias nacionais da periferia costumam associar seus interesses e seu destino aos do capital financeiro internacional. Assim, o neoliberalismo tornou-se hegemônico e foi aplicado por intermédio de uma aliança política do imperialismo, em especial os EUA, com as classes dominantes locais.
Tal aliança foi encarnada e personificada em figuras como Augusto Pinochet no Chile, Carlos Menem na Argentina, Carlos André Peres na Venezuela ou Fernando Henrique Cardoso no Brasil. Todos esses líderes da direita neoliberal praticaram uma política de submissão aos EUA, ao FMI e ao Banco Mundial, privatizando, liberalizando e desnacionalizando a economia, bem como empreendendo uma dura ofensiva contra as conquistas e os direitos arrancados pela classe trabalhadora ao longo de mais de um século de lutas.


 


Depreciação do trabalho


 


Os interesses do imperialismo e das burguesias locais convergem precisamente no objetivo comum de depreciar a força de trabalho; reduzir o valor dos salários e aposentadorias; precarizar os contratos; redimensionar a ação do Estado, com políticas públicas, incluindo a política econômica, orientadas no sentido de saciar a ganância de uma oligarquia financeira, nacional e estrangeira, em detrimento dos interesses populares e nacionais.


 


O neoliberalismo reforçou os laços de dominação imperialista, agravando os problemas econômicos e sociais decorrentes da crise da dívida externa, deflagrada em 1882 pela moratória mexicana. Seus nefastos efeitos despertaram a revolta dos povos, o que se desdobra em mudanças positivas e promissoras no cenário político da nossa América Latina. 


 


Interesses entrelaçados


 


O entrelaçamento da questão nacional, que se traduz na necessidade de encontrar um caminho soberano para o desenvolvimento dos países periféricos, com a luta da classe trabalhadora contra a exploração capitalista ficou evidente na revolução bolivariana liderada por Hugo Chávez na Venezuela. .


 


Chávez combatia o neoliberalismo e tinha por objetivo um projeto alternativo, não completamente delineado, porém soberano diante das potências capitalistas e que buscava satisfazer interesses populares negligenciados e violentados pelas elites burguesas e os latifundiários da Venezuela ao longo dos anos.


 


Luta de classes


 


Ao tentar levar adiante o seu programa de governo, que contemplava a reforma agrária e outras bandeiras populares, o presidente venezuelano se deparou com uma feroz reação da direita e do imperialismo, que culminou no golpe de 2002 e, naquele ano, numa prolongada paralisação do ramo petrolífero que colocou em xeque a produção e distribuição de energia no país.


 


A conduta das forças reacionárias acirrou a luta de classes na Venezuela e Hugo Chávez parece ter percebido que não poderia avançar na direção de um projeto de desenvolvimento soberano, alternativo ao neoliberalismo, sem antes vencer a resistência enérgica e radical dos grandes capitalistas e latifundiários, associados aos EUA, à mudança do status quo.


 


Socialismo


 


Daí a radicalização da revolução bolivariana, que passa a adquirir um caráter proletário mais pronunciado e proclama o objetivo mais ousado e avançado da nossa época: o socialismo do século 21, resgatando uma perspectiva que muitos consideravam definitivamente perdida, inclusive nos círculos de esquerda. O socialismo, por definição, é o sistema social fundado nos interesses da classe trabalhadora em oposição ao capitalismo, que é o sistema imposto e usufruído pelos capitalistas.         


 


A classe trabalhadora é, hoje em dia, a principal força social interessada e engajada na conquista de uma efetiva soberania econômica e política para as nações latino-americanas, na luta pelo desenvolvimento com justiça social, pelo cancelamento das dívidas externas dos países mais pobres, contra as privatizações, contra a degradação social e ambiental.


 


Desenvolvimento nacional


 


Tendo em vista a identidade entre os interesses da classe trabalhadora e os interesses nacionais dos povos que habitam nossa América Latina podemos imaginar o papel proeminente que o movimento sindical pode e deve desempenhar na luta por mudanças sociais, que hoje conta em diferentes países com o respaldo dos governos.


 


O fracasso político do neoliberalismo coloca na ordem do dia a necessidade de elaborar e implementar novas estratégias e modelos de desenvolvimento nacional. A classe trabalhadora e os sindicatos não podem ficar alheios ao debate sobre os novos rumos que devem ser abertos, não estão alienados da questão do desenvolvimento nacional, que naturalmente tem suas particularidades locais.


 


(continua)

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