A direita “mia”

Num passado recente a direita “rugia”. Embora nunca tenha tido a força de um leão ela sempre contou com a retaguarda dos Estados Unidos e a instrumentalização das ditaduras militares para fazer valer sua política em todo o continente latino americano.

A direita sempre foi extremamente pragmática. Se o movimento popular experimenta um período de ascenso ela rasga as constituições nacionais e recorre aos golpes militares ou invasão aberta de países soberanos, como fez no Iraque. Mas se a fase é de “trevas” para o movimento popular, ela simplesmente cuida do desmonte do estado, da supressão de direitos sociais e trabalhistas dos trabalhadores e faz apelos a democracia, como se tivesse algum compromisso com isso.


 



Hoje, apeada do poder político – mas não do econômico (o poder “real”) – em praticamente toda a América Latina, ela não pode mais rugir. Perdeu os “dentes” que lhes permitia, com um simples rosnado, atemorizar os adversários ou dilacerar aqueles que, como nós, ousasse desafiá-la. Mas continua “miando”, tal qual um felino desesperado. Está claramente incomodada com as sucessivas vitórias da esquerda e, especialmente, com a desenvoltura com que esse segmento social vem governando, apesar dos erros e limitações.


 



Se o seu “miado” não for respondido a altura ele pode sim, novamente, se tornar “rugido”. A direita não aceita que a vontade popular se expresse, salvo se lhe é favorável. Apenas finge que acata e tolera governos de caráter mais democrático, enquanto procura se reciclar para tentar novamente ocupar aquilo que ela entende ser de seu exclusivo direito de uso.


 



Nunca teve respeito ou acatamento pelos chamados valores democráticos, salvo quando estes estão a seu serviço ou invocados para defender seus privilégios. Sempre recorreu a todo o aparato do estado para sufocar as vozes discordantes, seja por meio de ditaduras sangrentas, de presidentes fantoches, pela interpretação conveniente do arcabouço jurídico e pela parcialidade de seus meios de comunicação.


 



A tentativa recorrente de criminalizar os movimentos sociais, – especialmente o MST – desqualificar as Centrais Sindicais e questionar a legalidade de eventuais repasses de recursos públicos ao movimento social dão bem a dimensão dessa parcialidade. Nenhuma palavra contra as políticas neoliberais que levavam o mundo a maior crise capitalista contemporânea, cujas “saídas” estão sendo bancadas pelo “maldito” dinheiro público e a custa do sacrifício dos trabalhadores. Nenhuma palavra contra empresários que recebem bilhões de ajuda do governo e retribuem com milhões de demissões, como no caso da EMBRAER. Nenhuma palavra, igualmente, contra os milhões que FHC repassou às “suas ONG’s”. Mas se o beneficiário é o MST aí é crime, aí pode!


 



Numa clara demonstração da vitalidade do princípio marxista de que “o estado nada mais é do que um instrumento de dominação dos interesses das classes dominantes”, todos os presidentes de esquerda da América Latina estão sob “fogo cerrado” do grande capital, do judiciário e dos meios de comunicação de seus países.


 



A tática varia da onda separatista boliviana, da tentativa de desabastecimento na Venezuela e Argentina (o mesmo expediente usado pela CIA e Pinochet contra Allende, no Chile) e a sistemática campanha de desqualificação de Lula no Brasil, dentre os muitos exemplos da falta de respeito da direita para com a decisão do povo.
Os recentes episódios envolvendo o presidente do STF e o jornal Folha de São Paulo são exemplos inconteste dessa parcialidade. O primeiro, que ocupou cargo de confiança no governo FHC e posteriormente foi nomeado por ele ministro do supremo, não se conteve e esqueceu que os “magistrados só devem falar nos autos” e passou a bater boca com o MST, que lhe devolveu os ataques a altura. E a Folha de São Paulo resolveu “anistiar” a ditadura militar e transformar em criminosos trabalhadores que lutam pelo direito à terra.


 



Mas eles não param. E creio que o movimento popular deve reagir a altura e, se for necessário, fazer valer a sua incontestável maioria e legitimidade.


 

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