A dona do bolo

Aqui dentro faz barulho e do lado de fora tem soldados armados dispostos a não amar. Insistir é desaconselhável

Foto: Reprodução

Despeço-me, sem a bala de Maiakovski e os lençóis de Fernandes Nogueira. Já é tarde, o prazo acabou, a fruta apodreceu, com o tempo vira adubo, mas é preciso esperar, não necessita ficar olhando, o processo é lento.  

Tenho que sair. Cuba talvez ou o fundo do quarto por um momento. Aqui dentro faz barulho e do lado de fora tem soldados armados dispostos a não amar. Insistir é desaconselhável.

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A gota de paciência acabou há dias. As condições concretas apresentam um horizonte nebuloso com rosas caídas e espinhos erguidos. O amor fez viagem, seguiu outra estação.

A mala ainda não está pronta, nem o destino. Maiakovski e Fernandes Nogueira não se encontraram, seus poemas são explosivos, menores que suas dores. Deixo aqui a bala e os lençóis dos poetas e parto comendo um pedaço de bolo de cenoura com chocolate.

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