A esquerda e as eleições de 2026: quatro tarefas para um novo ciclo político

Para disputar a direção do país, a esquerda precisa superar a paralisia, propor um novo projeto estratégico e fortalecer sua base institucional e social.

(Foto: Reprodução)

À medida que nos aproximamos de 2026, é imprescindível que a esquerda brasileira reflita sobre o que está em jogo. Mais do que uma disputa eleitoral, trata-se de compreender o papel da esquerda na reconstrução de um projeto estratégico, após mais de uma década marcada por retrocessos e desafios severos.

Antes de pensarmos nas tarefas futuras, é necessário lembrar o ponto de partida. A vitória de 2022 não representou propriamente um triunfo da esquerda, mas sim a rejeição de um projeto autoritário de extrema direita. Foi, sobretudo, uma vitória das forças democráticas que se uniram para barrar a permanência do bolsonarismo no poder. Esse caráter de transição moldou o atual governo e explica, em parte, seus limites e contradições.

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Entre 2013 e 2022, vivemos um dos períodos mais turbulentos da história democrática recente: manifestações difusas em 2013; consolidação de uma nova direita – mobilizadora, sem vergonha de defender suas ideias e com forte atuação nas redes sociais -; ascensão de movimentos como MBL e Vem Pra Rua; Lava Jato; golpe parlamentar em 2016; e prisão de Lula. A esquerda esteve acuada, fragmentada e impedida de atuar plenamente no jogo político. Somente agora, após 13 anos, surgem novamente condições para fazermos política de maneira estratégica e propositiva.

Frente a esse cenário, identifico quatro grandes tarefas fundamentais para que a esquerda chegue fortalecida às eleições de 2026:

  1. Construir uma aliança democrática sólida

O bolsonarismo não está morto. Ainda que talvez não esteja à frente do projeto conservador, ocupando a candidatura à Presidência da República, buscará manter forte presença no Congresso (trato desse tema neste vídeo (https://youtu.be/eFuKiWYYY4o?si=UVnkFagaQeh6zLqB). É fundamental barrar esse avanço por meio de alianças amplas com forças democráticas. A questão democrática deve permear nossas movimentações: não podemos permitir que a extrema direita retome o controle do Executivo. Não se trata de diluir nossos princípios, mas de compreender que a defesa da democracia exige amplitude e flexibilidade política.

  • Apresentar um projeto de esquerda para o país

Ao contrário do que alguns setores pregam, a política não se faz por etapas. A luta política é complexa e exige atuação multifacetada: devemos avançar em diversas frentes, pois elas não se excluem. Ao mesmo tempo em que buscamos alianças com o campo democrático-popular, é necessário apresentar um plano de governo com a visão da esquerda.

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2026 será a primeira eleição em muitos anos na qual a esquerda poderá – e deverá – apresentar sua proposta de país. Isso exige ousadia e substância. É hora de propor um modelo que enfrente a desigualdade estrutural e reafirme nossa concepção de democracia. Temas como a redução da jornada de trabalho, a desoneração do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais, a taxação dos super-ricos, a ampliação de políticas públicas voltadas aos mais vulneráveis e o compromisso com a consulta popular em temas estratégicos para o desenvolvimento do país devem estar no centro de nosso programa de governo. Muitos desses temas já estão sendo debatidos no plebiscito popular nacional e precisam ser incorporados integralmente à proposta da esquerda.

  • Ampliar a presença no Congresso Nacional

A disputa pelo Legislativo será estratégica. É urgente fortalecer as nominatas da esquerda e construir alianças com setores democráticos que ampliem nossas bancadas, especialmente no Senado. O objetivo é evitar a paralisia institucional e criar condições reais para que um novo governo Lula – ou de outra liderança progressista – consiga governar com base parlamentar sólida.

  • Fortalecer os movimentos sociais

A esquerda só terá força no Parlamento se caminhar junto com as lutas populares. Os movimentos sociais devem atuar desde já, intensificando o debate político na sociedade. O plebiscito nacional sobre jornada de trabalho, imposto de renda e super-ricos é um exemplo poderoso do que podemos fazer.

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Mobilizar a base, formar militantes, escutar o povo e construir agendas conjuntas é o caminho para recuperar relevância e capilaridade política. E essa tarefa não pode ser tratada como passageira ou restrita ao ciclo eleitoral – deve ser compreendida como um processo contínuo de acumulação de forças para os embates que virão. O custo político da desmobilização dos movimentos sociais já está evidente.

Conclusão

Entender a profundidade da crise que enfrentamos – e as razões pelas quais ela nos atingiu – é essencial para rompermos o ciclo de paralisia e recuperarmos nossa capacidade de luta. As tarefas estão dadas: ampliar alianças democráticas, formular um programa ousado com identidade de esquerda, conquistar espaço institucional e fortalecer os movimentos sociais.

Se avançarmos nessas frentes, entraremos em 2026 não apenas para disputar votos, mas para disputar, de fato, a direção do país.

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