A ética do impedimento

No momento em que setores da sociedade brasileira defendem o impeachment da presidenta Dilma Roussef, em nome da ética e da moral, faz sentido a gente se perguntar se não é imoral defender o impedimento de uma governante legitimamente eleita e o que tem significado historicamente na prática o sentimento ético dessas elites políticas que defendem o processo?

Vale aqui um parêntesis para entender este conceito que permeia as relações sociais no mundo dito civilizado. Do grego ‘ethos’, ética significa conduta, modo de agir e é, de certa forma, o resultado de um sistema de argumentos que justifica as ações de uma pessoa ou de um grupo.

Se analisarmos o processo de nossa formação como nação, veremos que a ética dos colonizadores – os exterminadores bandeirantes e jesuítas – não era a mesma dos indígenas exterminados em sua quase totalidade. Assim como a ética do senhor jamais foi a do escravizado. Dessa forma, a ética de Zumbi, Antônio Conselheiro e Lampião era diferente da de Domingos Jorge Velho, do marechal Floriano Peixoto ou a de Duque de Caxias, primeiro golpista e patrono da nossa república.

A ética das lideranças dessa burguesia que pede o impeachment da presidenta não pode ser similar à dos milhares de jovens negros que, sem direito à educação e acesso pleno ao mercado de trabalho e lazer, convive, ou melhor “com morre” todo final de semana, vítimas das chacinas e outros tipos de violência há mais de cinco séculos neste país, sem nenhuma manifestação de massa em sua defesa na avenida Paulista.

Ou seja, o que sempre foi ético para uma minoria bem nutrida, nunca foi para aqueles que clamam por justiça, dignidade e igualdade de oportunidades na educação, saúde e outros elementos essenciais para uma cidadania plena.

A ética tem que ser de verdade e não de conveniência. Seja na política, na polícia, nas relações capital/trabalho, nos meios de comunicação, em todas as instituições. Só assim, teremos uma nação verdadeiramente digna de sua Constituição republicana.

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